Animo zero

Hoje dia das mães, pra mim parece que a única mãe que eu tinha se foi.

De verdade, porque na hora do aperto da angústia ou do desespero era pros braços da minha vó que eu corria pois a minha mãe estava envolvida na relação dela e com os outros filhos dela. 

Eu fui criando uma casca psicológica de proteção sabendo de declínio e independência.

Eu sabia que algum dia eu ia perder a minha vó, quando criança ou adolescente eu sabia que não estaria preparado e torcia pra que esse momento chegasse quando eu estivesse forte e foi o que aconteceu. 

Chegou numa época em que eu estudei tanto que eu sabia que não adiantava orar ou clamar quando ela estava entubada. 

Fez muito papel de pai e mãe na minha vida, lembro de dias rebeldes de adolescência que todo mundo e todas as pessoas me viraram as costas enquanto eu perguntava "quem é o meu pai?" ela me buscava pra casa dela e íamos a comer pamonha na pamonharia que ela pagava pra mim.

E outras coisas assim... "vó esse final de ano não quero passar com muita gente só com você."

"vó esse aniversário vamos nos duas comprar uma torta e ir pra aquela praça bonita comer e conversar sozinhas."

Tô tão desanimado de tudo, não tenho amigos, não confio em família.

Tenho um pai que já deixou claro qual lado imparcial ele defende, um irmão com problemas psicológicos que já me ameaçou de morte e uma mãe tentando administrar as relações que escolheu pra vida dela. 

E eu?

Estou estacionado aqui, sem amigos, as contas os juros indo a números que não vou conseguir controlar.

Preciso dar um jeito de ir embora dessa casa. 

Tem horas que as coisas que as pessoas que me magoaram falam ficam voltando na minha mente.

Foi a primeira vez que fui ameaçado de morte sem falar que se não fosse minha mãe ele tinha me machucado. 

Quebrou a porta do meu quarto, meu pai cruzava os braços deixando claro que tava nem aí pra mim. 

Cheguei no mais difícil, a pessoa que eu mais amava ou tinha medo de perder se foi. Agora todos eu suporto sem chorar. 

Voltando a parte do declínio da minha vó, eu fui vendo que ela estava ficando distante, na verdade eu não sou muito de grudar mas nessas brigas todas depois que esse moleque arrumou o demônio dessa menina, ela tinha me dado um espaço no quintal dela pra que eu construísse e morasse lá.

Andamos juntas no quintal e ela me olhou com olhos de lágrimas falando que se ela fosse não mudasse nada. 

Porque eu tava falando pra ela que eu queria abrir um buraco no muro pra mim entrar pra minha casa porque eu não queria ter de passar pelo quintal dela pra ir pra meu espaço.