Tô aqui em casa no escuro tentando escrever esse texto e a Minnie agonizando do lado eu não sei mais o que essa cachorra tem o que eu sei é que a dor ou incômodo é terrível e o sentimento de impotência em mim enorme.
E destrói agente porque chega cansado do trabalho pesado e tem um pet que nem dorme de dor.
Tô igual aqueles zumbis literalmente a capa do batman.
Hoje mais cedo enquanto eu varria com o rodo a frente da prensa da convenção um rapaz lá que já chegou no nível máximo nas áreas de produção veio falar comigo, disse que queria falar comigo sobre uma oportunidade.
Eu sei lá se vou tentar isso meu povo, as vezes ganhar mais que é pouca coisa não vale a pressão de perder a minha paz interior.
Vamos ver.
Esse lugar onde estou trabalhando agora é de pessoas muito guerreiras que precisam trabalhar parece um lixão enorme que faz tudo de papel, lá uso a máscara sem parar porque a poeira e o pó do papel é muito.
Estava pensando algumas coisas, aqui onde estou trabalhando em questão de manutenção de resistência e emprego por estabilidade de renda é bem melhor.
Trabalha muito, é pesado mas, é o perfil que se encaixa no meu momento, aqui na Sofity tem pessoas de até 50 anos trabalhando normalmente, então não me sinto velho, como o Marcos falou sou igual vinho quanto mais velho melhor.
Foram vários os motivos que me fizeram deixar a Big Lar, eu amava a loja, amava a gerente mas estava me dando super mal com o supervisor e alguns outros funcionários.
Quando entrei lá tava num momento muito difícil, eu não conseguia emprego em lugar nenhum, a pandemia beirava o auge e eu vendia balinha no sinaleiro, água, bico de panfletagem pra político enfim vários paranauê.
Um dia minha gerente passou e me deu 50 reais, dias depois ou antes não me lembro tinha deixado um currículo lá com carta escrita a punho pedindo uma oportunidade.
Eu ficava na praça das mães e a Big Lar na praça Oeste, então eram próximas.
O nível de cobrança de trabalhar numa loja exposta era enorme, tinha que tar tudo sempre bem organizado e no meu caso algumas sessões até separadas por cores como a UZ, eu cuidava de sessões como Plaisutil, aramados e Jardinagem.
Durante o tempo fui me sentindo velho já que lá a maioria do pessoal que durava era mais jovens que buscavam seu primeiro emprego e tals.
Existia aquilo de agradar o gerente e tinha aquela instabilidade de não saber se no mês seguinte você tava lá, na loja que me deu oportunidade quando ninguém acreditava em mim eu tentei abrir, aliás reabrir a faculdade de psicologia.
Eu lembro que eu ganhava salário mínimo e metade ia pra faculdade pro boleto de 600 reais, só a gerente e a Mayara que me chia com as contas do administrativo sabiam dessa luta minha. Que eu estava tentando a faculdade novamente.
O supervisor que eu não dava certo, valorizava a indisciplina e os rapaizinhos novos e bonitos que ele gostava.
Ai no dia 25 de dezembro quando eu fazia um ano de loja não sei se foi 24, ele me estressou demais, eu tava numa correria deixando as cestas nos corredores organizadas pros clientes e ajudando no congestionamento do caixa e ajudando Zayda abastecer a linha de jarras, vidros e louças.
Ele queria que eu fizesse tudo da loja, a minha gerente não estava, coisas simples que ele resolveria em 2 minutos como colocar os refrigerantes no freezer ele deixava na porta pra mim fazer me chamando de surdo.
Diferente dele eu estava começando entender a loja todinha e minha chef estava percebendo como eu ia evoluindo.
Naquele stress todo eu surtei e fui embora e depois mandei minha carta de demissão, agradeci a oportunidade e afirmei minha saída.
Jamais faz parte da minha pessoa ficar aguentando tanta coisa ruim de uma pessoa que nem faz muito bem o seu trabalho, jamais eu ficaria ali me humilhando, num ambiente que não tava mais legal pra mim, sair foi uma escolha forte de amor próprio e tenho orgulho disso.
Sei que no final eu enfrentava preconceito velado mas, um pastor batia a mão na bunda dele e outras brincadeiras horríveis e desnecessárias que não cabiam nas atitudes de supervisor de loja.
Depois fiquei alguns meses parado e as contas iam acumulando, a faculdade me cobrava como um rolo enorme de neve que ia despencar, mas lojas meu nome tava sujo, desenvolvi uma dívida com o banco por ter pegado o limite e tô com tanta prioridade que tô sem coragem e condições de encarar pagar.
Eu ficava chateado porque comigo na loja as cobranças eram tão fortes de prateleiras a comportamento e parecia ser tão flexível aos demais.
Foi quando depois de um certo tempo buscando vagas de emprego, a Flávia, uma empresária contadora de Anápolis marcou uma entrevista comigo no Brasil Park shopping.
Lá estava eu, inseguro como sempre, com a máscara da Louis Vuitton no rosto, uma calça creme e uma camiseta preta básica.
Na mochila tudo de basquete porque da entrevista eu ia pra quadra jogar, eu não parava, trocava no vestiário e ia pra quadra jogar.
A Flávia me explicava que precisava de alguém de confiança que o gerente ia sair e que ela estava precisando de alguém para ajudar ela numa cafeteria, a Flor do Café.
Contei minha história a ela e inclusive meus defeitos de quando saí por estar batendo de frente com meu supervisor.
Ela parecia ter gostado de mim de imediato e eu dela, uma energia boa não sei explicar.
Ela falou que precisava ligar para a Big Lar para pegar as minhas referências de como eu era no trabalho e dias depois eu estava tentando uma oportunidade numa cafeteria linda e elegante.
Tudo era novo e diferente para mim, nem de café nunca gostei e tinha de aprender tudo, todas receitas e dominar a máquina do café.
Meu caderno de anotações virou uma bíblia, comecei aprender a falar com os fornecedores, tive muita dificuldade em fechar caixa e contas.
Dias depois o Ronaldo me falou que ia passar tudo e que eu ia ficar no lugar dele como gerente, ele não parava pra almoçar pois tinha que tar ligado em tudo e eu tinha que fazer o mesmo pra pegar ritmo.
Ele perdia muito a paciência comigo no Caixa da loja, até que um dia sem que me falassem nada chegou uma menina super inteligente e boa de conta que já administrava um pub de cerveja universitário e o Ronaldo começou a passar tudo que me ensinou pra ela na minha frente.
A sensação era horrível, de impotência, de derrota de querer ter braços pra nadar e não ter.
As chaves da loja que ficavam comigo passei para as mãos dela e agradeci a Flávia pela oportunidade.
Minha garganta dava um nó e secava vivendo e perdendo mais essa disputa empresarial aonde mais uma vez a vida me mostrava que eu podia ter um negócio mas precisava de um braço direito bom de contas e com paciência pra me ajudar.
Eu sentia o mesmo nó seco na garganta de ver um sonho desmoronando como quando aconteceu quando tive meu segundo emprego na Cacau Show.
Voltando pra essa época não foi muito diferente do Flor de Café, parecia que eu estava vivendo um sonho, outra loja linda de chocolates.
Me lembro de chegar de Mac Boot preto e o cabelo enrolado de gel pra trás parecendo as moças do balé para a entrevista. A roupa toda preta só os cabelos claros.
Me lembro de falar pra Dani e pra Sephora na entrevista que eu sabia que elas contratavam só mulheres pra ficar no caixa da loja mas que eu poderia ser um diferencial de qualidade.
Passei na entrevista, o que era raro pra garotos, já que meninos não eram nem chamados a não ser se fosse pro estoque ou doca na Páscoa.
Junto comigo passou na entrevista outra menina e já tinha uma lá tentando a vaga a pouco tempo a Jennifer, e a Dani deixava claro que só ia ficar uma.
Quando eu ficava no caixa as pessoas perguntavam no pensamento parecia "Nossa, o que está acontecendo?" eas outras meninas se perguntavam também porque a Dani tentava a vaga comigo também.
A minha dificuldade com o caixa apareceu mais uma vez, não tive tempo pra treinar nada, tinha que já saber como resolver.
Era um programa complicado de mecher se não tivesse o passo a passo ou alguns dias de treinamento eu consiguiria mas eu não tive isso.
Um dia, eu estava lá sozinho no domingo e fiquei ligando para a Jennifer quando aparecia alguma coisa ou número no computador que eu não sabia.
Elas mandaram a Jennifer embora, apesar de já saber tudo ela não se encaixava devido a personalidade adolescente dela, em dois meses tava lá já tava querendo abandonar os pais e pagar um aluguel e muito nova pra essa independência toda, ela fazia faculdade de administração.
Ficou só eu e a Yanne, eu percebia que eu nunca falava nada da Yanne pra Sephora que era a gerente mas que a Yanne falava muito de mim para ela, de tudo tipo um envenenamento.
Yanne tinha toks e tomava até medicação para nunca menstruar pois odiava.
Meu erro nessa fase que era imaturo foi o diálogo, eu deveria ter falado que eu sabia que não precisava contar com a Yanne pra nada.
Começamos a alternar os dias de fechamento de caixa, no dia da Yanne eu tentava pegar alguma coisa mas ela fazia tudo rápido e imprimia o papel com pressa, sem paciência de me falar nada.
No meu dia, Yanne ficava calada do meu lado, e ignorava meu olhar de pedir ajuda, até que eu falei que não lembrava o processo, aí ela falava deixa desse jeito aí e manda a mensagem que não conseguiu.
Mas, só depois fui entender que só a mais independente e forte de nós três estaria realmente preparada para estar ali.
Agora, eu estou aqui escrevendo numa sala de prensa de uma convenção de papel, coisas lá de trás do meu primeiro emprego na Brain Farma me ajudam nessa fase atual da Sofity.
Mas antes de entrar por essa empresa terceirizada na Sofity eu tentei uma vaga de controlador de acesso pela empresa terceirizada Souza Lima lá na Ypê.
E fiquei muito tempo de bicos e faculdade de psicologia, foi muito bom o curso, eu sabia que era quase impossível pra mim o diploma mas que até onde eu chegasse valia apena, eu vendia produtos de revista Avon e O Boticário, tentava bicos em panfletagem e tentei uma experiência horrível num restaurante Flor de Sal que a cozinheira deixava filas de panelas enormes pra mim ariar e falava nas minhas costas "eu achei que você daria conta." o dono super enjuado eu com dificuldade de amarrar e ele chamando minha atenção pra amarrar a sacola do jeito dele.
Muito enjoou pra comida que vai virar fezes depois, quero trabalhar com comida mais nunca na minha vida.
Na faculdade nem era coisa de ir pra barzinho ou passear no tempo, era igual escola, eu tava ali realizando um sonho quase impossível pra mim e tentando entender coisas que eu nunca tive capacidade de pagar ou entender, eu sentava na primeira cadeira e brigava igual tigre pelo meu espaço mesmo com todas minhas deficiências, todos sabiam que eu tinha meu lugar.
Foi frustrante, porque pra mim era tão árduo e valoroso estar ali e pros outros tão pagado e tão fútil e online e no final eu reprovava e quem vinha só no dia da prova passava com mérito.
Fora os TCC que eu queria fazer sozinho e nunca dava conta, eu não tinha dinheiro pra pagar ninguém pra fazer e nem achava justo.
Mas a Psicologia e a Faculdade não sairam dos meus sonhos, penso em fazer tudo de novo do zero com nome novo e como se eu não soubesse de nada que eu passei ou estudei, guardar só pra mim mesmo, todas as maldades, ganância e verdades do mundo competitivo de interesses monetários aonde só chega no ponto quem tem dinheiro pra pagar o uber.
Voltando pro controlador de acesso, lá onde eu tava o cansaço não era físico era mental, tinha os computadores e diferente da Cacau Show eu fui muito bem treinado pela Mônica durante uma semana o que deu pra pegar bem.
Eu sabia dar entrada nos motoristas, por crachá, novo cadastro, dar baixa tudo pelo computador.
O problema foi uma confusão que teve lá e sobrou foi pra mim, e depois os caras do lado de lá perguntaram se eu conseguiria identificar o pessoal que tava lá fora da briga e eu inocentemente pedi o crachá de todos e levei pra eles, pra que o homem lá acabou comigo, chamou minha atenção e falou que teria que passar pra frente.
Me sentindo super mal, como se eu tivesse fazendo tudo errado pedi conta, mas era horrível, nem dormia igual um zumbi e ficava só parado morcegando nas madrugadas.
Os caras lá tavam me colocando pra sair também parece, tipo o cara faltava de atestado e eu ficava com dois turnos quase seguidos e nem descansava. Revesava com outro lá os dias seguidos mas nem compensava tava me adaptando.
E ganhei uns 200 reais dessa luta toda.
Agora tô trabalhando na Sofity numa convenção de papel, parece um lixão, na parte que eu fico é a parte mais pesada a prensa.
La é muito pó, sujeira e só uso máscara porque ajuda, essa noite nem dormi direito nariz entupido e vou voltar pra lá agorinha.
Ontem o Pedro voltou das férias lá pra prensa, ele é uma pessoa ignorante, sem educação e sem paciência tenho que aguentar mais esse desafio na minha vida, suportar isso.
Diferente de mim e Manel que estamos lá também, por ter muito tempo o Pedro se considera o líder e dono da prensa, ele some pra fumar um cigarro ou dor de barriga e volta uns 40 minutos depois enquanto eu sou muito certo com horários.
Eu não sei se o Marcelo quer me destruir emocionalmente, me passar raiva ou me levar ao máximo de exaustão física ou me fazer desistir e pedir conta e só sei que a luta está e vai ser grande.
No início eu achava Manel ignorante mas agora eu e ele estamos nos dando bem, e ele me ensinou muita coisa, ele parece aqueles índios antigos sábios e chega também sempre no horário certo.
Eu tô vendo que eu e o Pedro não vamos nos bater de jeito nenhum e acho que o Marcelo sabia disso, Marcelo quer é ver o circo pegar fogo.
Quando o Pedro tava de férias o Marcelo deixou eu e outro novato lá pra ajudar Manel.
Agora ele voltou e o Marcelo me perguntou enquanto ajudava ele, isso eu achei bonitinho mas era o mínimo que ele podia fazer, se eu queria ficar ou sair da prensa e eu disse que queria ficar porque sou de rotina e agora que estou pegando o ritmo mudar pra outro lugar e começar do zero ia me bagunçar psicologicamente.
Passado um pouco o Marcelo avisa o outro rapaz que ia ficar na prensa só eu, Manel e Pedro.
Disse que tem dia que o Pedro chega xingando estressado e quer bater em todo mundo, eu não vou dar confiança e nem moral pra ele chegar nesse ponto comigo, nem vou ficar conversando muito vou fazer meu trabalho, minha ajuda no que posso e vou embora.
Qualquer coisa só o Marcelo me mandar embora, só eu sei a luta que eu enfrento de convivência em todos os lugares que eu passo.
Sempre tem um cão dos inferno pra acabar com meus dias de paz.
Eu vou focar em juntar dinheiro pra minha casa, conversei com a moça do banco Bradesco e ela abriu um depósito pra mim que rende em investimentos, todo mês vou pegar meu salário todinho e jogar lá já que é pouco mesmo e tentar deixar render vou tirar só a passagem de ônibus do mês.
No mais vou ir sugando misérias dos meus pais enquanto minha mãe ainda tá viva e dá porque essa fonte vai secar.
Literalmente, é como se eu não tivesse trabalhando o foco é juntar dinheiro pra ter minha casa.