Hoje fui pro trabalho passando mal, o peito congestionado de catarro que nunca sai.
No caminho pedia a minha avó que aonde ela estivesse rogasse por mim e me ajudasse a tirar essa tormenta que não se vai, está presente desde meus TCCS de Psicologia, desde a primeira vez que achavam que eu estava ficando louco mas parecia que sentia tudo da covid antes dos jornais entederem muito bem o que acontecia no mundo.
Eu jogava basquete com um tatuador especialista em cores na época, esse era meu contato físico mais íntimo no momento porque em casa era o gelo de relação.
Comi um pão seco com ketchup antes de ir e na saída veio minha mãe me dando dez reais para que eu lanchasse.
Eu quase joguei esse dinheiro na mega sena porque quando perder minha mãe não vai ter ninguém.
Eu sei lá se vou antes também, sentindo essas coisas estranhas.
Quando ela me deu o dinheiro eu pensei no futuro e não no agora.
Se por sorte eu acerto as seis dezenas da mega sena tenho um futuro seguro e garantido sem depender de ninguém.
Aqui em casa meus pais estão voltando pra criança deles e eu também já não estou tão jovem, minha mãe está com a vista bem fraca e muito ruim de ouvido e meu pai muito lento em tudo.
Tenho que ter muita paciência mas o mais saudável é deixar os dois viverem essa faze deles tranquilos e eu ter o meu espaço, se os outros dois vão ter a consciência ou não de abarrotar e acabar com os dias da bateria da minha mãe é com eles e ai já não é problema mais meu.
Vou estar feliz na minha casa, organizando as minhas coisas na minha vida sem ter que agradar e ser a relação dos outros que sempre fui.
Acho que demorou pra mim entender que as coisas passaram, que minha saúde não era de ferro, que a juventude e lucidez dos meus pais da minha vó não seriam eternos, que como um fruto cai do pé a vida me empurrava para assumir um novo papel.
Posso abrir minha loja de plantas ou quem sabe uma ferragista.
Na minha loja de plantas já teria o espaço das ferramentas de jardinagem mesmo aonde teriam mantas de bedim, sombrites, e tals.
Uso máscara todos os dias, no ônibus vou passando mal, lutando por mais um dia.
No terminal comprei um pastelão e um cachorro quente, chego sempre uma hora mais cedo tenho mania disso então se tenho que tar lá 14 umas 10 saio daqui por causa dos horários do ônibus.
Diferente de todas as pessoas eu amo andar de ônibus, meu nariz é muito entupido então sou pessimo de cheiro no mais coloco músicas no fone e vou como uma viagem todos os dias olhando os bairros pela janela desde criança eu amava isso, música e passeio.
Um carro ou moto chegariam mais rápido mas me estressaria e eu não tô preparado ainda.
Com os salgados fui andando até parar na sombra de uma árvore e comi os salgados mais a frente um pé enorme de ceriguelas e eu enchi minha bolsa. Elas verdes ficam amarelas e vermelhas depois quando maduras.
Lembrei da minha avó , toda vez que vinha me visitar, devido as minhas longas ausências, ela trazia um suco de caixinha de maracujá e o Cheetos requeijão da Elma Chips porque ela sabia que minha eterna criança amava, eu nunca envelheci para ela continuei sendo a mesma pessoa.
Mesmo com o joelho e pé pedindo bengala ela encarava os longos degraus do ônibus pra ver a pessoa antipática aqui.
Sim, fui muito frio. Teve dias que ela veio e eu não queria ver ninguém , só queria ficar no quarto.
Eu estava passando o momento de entender sozinho que o projeto era difícil pra mim conseguir, foi momento de mais um luto difícil da psicologia e de não ter nenhum centavo pra pagar terapeutas pra me acompanhar e precisava demais, aonde coloquei 100% não valia em caráter social de burocracia financeira e meu intelecto também não suportava o processo, era difícil.
Eu largava trabalhos pra não chegar atrasado nas aulas, brigava com a sala inteira pra ninguém sentar na minha cadeira de primeiro lugar porque eu sabia o quanto foi difícil pra mim estar cursando e durante o curso e até na volta de tentativa eu sabia que era hard, mas que tentei no máximo.
É aquelas coisas tipo fermento quando não é pra ser não força.
Está muito difícil esses dias vivo a base de descongestionantes, broncodilatador em xarope e nada, eu vivo gripado , eu tô achando que tô com asma e tenho medo de um ataque.
Aqui no trabalho é muito pó de papel e nisso as máscaras ajudam bastante, a hora que melhoro um pouco desse catarro é na hora do banho.
Tô com alergia da casa parece, de madrugada passa um vento muito gelado do telhado do meu quarto porque não tem forro, e todo inverno ou chuva é crise.
É horrível só quem tem sabe o sofrimento e mal estar.
Voltando ao trabalho cada dia a moça lá aumenta minha responsabilidade na máquina, ontem ela tava me ensinando encaixar as bobinas enormes de papel pra fazer guardanapos na máquina.
Achei muito difícil mas talvez com o dia a dia consiga decorar todos os caminhos daquela corrente de bicicleta de papel sem fim.