17/04/19
12:37am
Ou.
Ou;
Ou.
Ou.
Ouuuu
Ei
Eeeeiii
Eeeeeiiiiii
Socorro
Eeeiiiiiiiiii
Ouuuuuuuuuu
Os dentes estavam ficando marrons depois de tanto tempo fechados dentro da boca, a pele tão pálida e seca com um pequeno aranhão cicatrizado pelo gelo no rosto.
A boca estava uma fumaça notável, muita neve e solidão, essas duas em conjunto eram incalculáveis.
Era comprovado que mesmo se ela gritasse o mais alto possível ou produzisse uma chama com galhos e pedras produzindo fogo para atenção, mesmo assim não seria notada.
Ela estava dentro da sua finitude individual e por desespero ou consolo a mentira de um salvador a consolava.
Era um geada branca imensa e sem graça, um deserto de gelo sem nenhum contraste, só no céu ela via tanto mistério e possibilidade.
E clamava :
"-Tenha misericórdia de mim, alguma força do universo se existir, me ajude, eu não tenho ninguém por mim. Sou uma guerreira e quero muito sobreviver, me curar, quero viver mais. Não me deixem aqui."
As lágrimas secaram e ninguém se comoveria ali e o pior não mudaria o bonde dessa situação cristalizada.
Algumas vezes em sonho tentando se aquecer por cada vez mais vida sonhava com esse homem poderoso que chegava como um curandeiro de calor e vigor, uma chama que nunca apaga em suas mãos.
Na maioria desses sonhos ela sempre era salva.
De toda aquela palidez imensa de neve, as circunstancias pareciam ter criado um iglu com uma pedra em cima que soltava certa fumaça de calor e aquilo a enchia de esperança.
Cansada de gritar ela batia com outra pedra nas paredes desse iglu, não existia eco de tão sem paredes essa imensidão, era atormentador a agonia dela, quando chegava perto da pedra aquela fumaça de calor sumia a deixando com a compreensão de um delírio mesmo assim tentava pedra com pedra.
Com o tempo a pedra sumiu e o iglu também, ficou tudo mais pálido.
E ela continua.
Ei
Eiiiii
Oi
Alguém por favor?
Socorro.
