#BRIDGES33

"Todo homem luta com mais bravura por seus interesses do que por seus direitos." Napoleão Bonaparte

terça-feira, 5 de março de 2019

Poesia, Amor e Escritas Nas Trevas

06/03/2019
3:52am

Mergulhando mais uma vez no meu denso e concentrado rio interior.
Os fungos estão na pele e no solo.
Tão gelada a água quem nem dói mais.
A morte deixou de ser espanto para aceitação e decoração.
Comer algo quente pode me causar feridas difíceis de curar.
Exílio, descaso.
Aprendendo a amar, aceitar e abraçar a solidão que existe aqui.
No fundo os peixes são escamas que decoram meu lago medieval,gótico e sombrio e não aceito pelos brasileiros.
Realmente consigo me sentir um peixe fora da água tentando me recolocar no convívio social.
Duas jovens falam assuntos tão fúteis atrás de mim todos os dias durante as aulas que me enojam.
Volto mais uma vez e mergulho os pés na minha hostilidade para escrever uma expressão vazia que vai ser um dia mais um contraste do fundo ou borda.
Um verdadeiro grão de areia.
Os ratos estão proliferando e eles levaram o meu gato de mim.
Parecem colônias que já bebem mansamente aqui.
O pavor, terror , dor e sujeira estão me cercando.
Estou apodrecendo aqui dentro desse lago todos os dias.
Eu consigo me amar tanto me abraçando todos os dias no interior dessas águas.
Tentar salvar me será o desafio que cabe só a mim mesma.
Envelheci uns trinta anos em três interiormente nesses tempos.
Nunca mais vou divulgar meus escritos, vou deixar mofarem, derreter na água.
Tudo vai sumir na água parada.
É tão simples e foi só a vontade de ser algo, e tentei.
Minha maior vitória aqui nas águas foi a minha persistência.
O cumprir metas mesmo com toda dificuldade, e como foi difícil.
Perdi quase todo meu cabelo da frente e minhas bochechas estão todas cortadas pelos dentes de ansiedade.
Os médicos suspeitam até de bruxismo.
Estou saindo congelada ou petrificada pra sempre daqui, quase que desumano como esse ambiente me moldou e vou ter que transmitir isso de forma saudável por ai no futuro, espero.






segunda-feira, 4 de março de 2019

Esquizofrenia e pés descalços / ficção/ O relato de uma jovem QUASE hippie e seus conflitos

NOVA EDIÇÃO:


SUMÁRIO (Obs.: editar sumário e aonde durante o texto existir INT inserir ponto de interrogação, é que essa tecla do meu computador está queimada.)
SUMÁRIO
Agradecimentos
Introdução
1.     1. Filha do luar
2.     2. Ernestina e um passado
3.     3. Um presente de dois semelhantes em um
4.     4.Uma semente chamada segredo
5.     5. A infância
6.     6.  Puberdade e rebeldia
7.     7. Sabrina e a magia da natureza
8.     8. Momento e angustia realista
9.     9. Natal Gótico
        10. Busca de chaves e verdade
        11. Contato paterno no espiritismo
        12. Vertentes do Metal
        13.  Um câncer sem palavras
        14.  Tentando ser um homem




AGRADECIMENTOS:
Quero agradecer a todos, que seja o primeiro de muitos livros loucos meus. Foi um prazer.
Deixar claro aqui o meu agradecimento aos excluídos da sociedade, aos rebeldes e aos injustiçados socialmente vocês me deram uma força muito grande para seguir em frente com esse livro.
A todos os professores que passaram pela minha vida.


Observações: Esta é uma obra de ficção toda semelhança a qualquer outra obra é mera coincidência.









INTRODUÇÃO:

Oi, primeiro gostaria de me apresentar meu nome é Maria Eugênia Pereira e nesse livro gostaria de compartilhar com você toda a minha experiência vivida até aqui.
Te convido para caminhar descalço comigo.
Espero que você se divirta muito, pois existiram horas que nesse meu diário contado de forma pessoal que destaco momentos do meu passado e meus conflitos.



CAP.1:
FILHA DO LUAR
Minha mãe se chama Maristela Pereira dos Santos e até hoje meu pai biológico é uma incógnita um mistério que não consigo desvendar e que não gostaria que ficasse sem resposta, mas já estou começando a aceitar que vai ter que ser assim.
A família da minha mãe sempre foi conservadora, mas um sangue rebelde corria nas veias dela e talvez em um desses atos impensados e vergonhosos eu tenha surgido.
Prefiro acreditar que sou filha biológica do luar e todo seu mistério.
O que a senhora Maristela me contou é que ele se chamava mais um João dos outros tantos e que desapareceu quando ela contou que me esperava e não consegui mais informações sobre ele nem com outros membros da família e nem na internet como vejo nesses casos que se consegue achar na televisão o que eu quero enfatizar aqui e que depois mais tarde se tornará mais forte nos capítulos mais a frente e que na minha adolescência por muitos anos encontrar ele foi um dos meus maiores sonhos por que acredito existir toda uma genética e traços de sangue biológicos entre nós.
E sou fascinada em olhar histórias de famílias e da onde vieram os avós paternos e maternos e até hoje olho muito pro luar pensando nessas coisas já que faço parte desse universo.
A senhora minha mãe, a Maristela vou me referir a ela assim foi muito aventureira e tinha muitos namorados e não levava muitos a sério e era bem ousada para a sua época.
Me pego olhando fotografias dela dos anos oitenta que me assustam aquelas cinturas altas aqueles cabelos e as ombreiras.
Enfim minha mãe decidiu me ter sozinha, e como sempre mais uma vez escondia mais uma verdade que não teria como ser escondida uma gravidez indesejada.
Maristela tinha 18 anos e trabalhava de babá na casa de um veterinário e uma psicóloga, recém-casados que tinham um bebê chamado Gabriel no qual ela cuidava, um dia sem mais nem menos ela decidiu deixar o emprego e todos da casa ficaram chateados pois gostavam bastante do trabalho dela ágil, Maristela indicou sua irmã Mariana para trabalhar no lugar dela e ela se encaixou super bem.
Essa família que a tia Mariana e minha mãe trabalhavam eram muito amorosos e gostavam de viajar de vez em quando e minha mãe quando viajava com eles de babá para outra cidade quase sempre aproveitava para namorar ou conhecer rapazes diferentes.
E alguns chegavam realmente a visita-la e sempre tinha uma desculpa para não dar certo entre os vários pretendentes como um beijo ruim ou muito apegado.
Depois de sair alguns dias do trabalho minha mãe conversava com minha avó.
Minha avó era uma senhora de cabelos curtos cacheados e um óculos redondo na face escondendo seus olhos verdes e seu nome era Ernestina.
Dona Ernestina era muito implicante e gostava muito de uma bela arte morro de rir quando ela me falava das artes que aprontava na sua infância.
Nesse dia que elas conversavam minha mãe falou para minha avó ao olhar os pássaros brincando na jardineira que minha avó tinha no quintal que estava com vontade de comer passarinhos fritados na brasa com um arroz branquinho.
Ai minha avó percebeu que ela estava grávida de mim e foi uma situação muito difícil naquela época, não se estava com aceitações tão modernas como hoje, as mulheres que tinham filhos solteiras não eram bem vistas na sociedade o machismo era mais forte e minha tia Mariana me contava que algumas pessoas mais maldosas do bairro falavam que ela seria a próxima já que minha mãe já era a segunda filha da dona Ernestina a ser mãe solteira.
Minha avó chorava algumas vezes sozinha da situação que a casa dela estava se tomando dos seus quatro filhos um se mudou para outro estado de tantos filhos não assumidos e outras duas mães sem apoio, mas ela sempre as apoiava e pensava no quanto tentou fazer com que se firmassem na assembleia do reino de Deus na qual congregavam e as irmãs da igreja quase todas já olhavam de cara desconfiada para minha avó Ernestina.
Só restava minha tia Mariana que de tanto medo de cair na situação de suas irmãs se afugentava nas promessas e braços da igreja, cantando louvores com seu violão e trabalhando de babá no lugar da minha mãe.
Minha avó Ernestina sempre colocando os nomes de seus filhos Sebastião, Maria Aparecida, Maristela e Mariana na presença de Deus.


Cap.2
ERNESTINA E UM PASSADO
Minha avó me contava sobre seu passado e como eu gostava de ficar com a cabeça no seu colo enquanto me contava histórias dela.
Ela morava na roça e era tudo muito mais difícil ainda quando tinha sete anos sua mãe morreu de forma inesperada o que se sabe é que adoeceu e ficou febril, os médicos ficavam longe e demorava-se buscar contato os telefones e e-mails estavam longe de serem lançados.
E nem aquele telefone de ficha dos anos oitenta apareciam para marcar a história, mas nessa época muito cavalo, gado, carroça e estradas com porteiras empoeiradas.
Ela tinha um irmão Genésio de 5 anos e depois que sua mãe morreu tudo desabou na vida da minha avó Ernestina, se na época da minha mãe os homens eram machistas imaginam agora nesta parte que conto para vocês.
O pai da minha avó chamava Anésio e falou pra ela que iria arrumar um lugar pra ela ficar enquanto Genésio o ajudava a tomar conta das coisas que ficaram na fazenda.
Então desde nova minha avó morava de favor na casa dos outros e trabalhava só para comer, quase um trabalho escravo para uma criança já que não existia fiscalização e leis e tudo era mais distante da modernidade.
Tudo mais fácil de ocultar de tanto mato até um cadáver.
E ela sabia lavar roupa no rio, fazer bolo maravilhoso de fubá e beiju e café de manhã para seus cuidadores abusivos.
Além de passar por tensos momentos, pois, quando começou a ficar mocinha segundo ela o senhor da casa vivia tentando aproveitar-se escondido dela enquanto a senhora não estava e todos se encantavam com a baixinha arretada dos olhos verdes quando ela passava para servir alguma coisa.
Minha avó Ernestina me contava que ela fazia vestidos com a sobra dos panos da senhora da casa e se ficasse muito bem ela tinha que esconder pois, a senhora dava para suas filhas e nunca ou quase nunca ela podia ficar com nada além de comida.
No seu colo com os ouvidos atentos eu escutava ela dizer que se atraia muito por rapazes bem morenos. Os mulatos ela tinha uma atração inexplicável por eles.
Mais tarde depois de tantas aventuras ela se casou com Osvaldo dos Santos e mudou-se para outra cidadezinha enquanto seu irmão Genésio também construía sua família para outros lados.
Parecia ir tudo bem quando ela começa a me contar que perde um casal de gêmeos no parto seus primeiros filhos que ela nem sabia que eram gêmeos, foi um momento muito difícil segundo ela, Osvaldo começava a dormir muito fora de casa por causa do trabalho e ela começou a descobrir algumas traições.
Osvaldo dos Santos era um homem bem moreno com o nariz chato e olhos grandes negros e corpo invocado e forte.
Era muito aventureiro e inteligente e sempre escondia de minha avó Ernestina a verdadeira fonte de renda ou trabalho, sempre inventava uma empreiteira diferente.
Aquele velho machismo de mulheres não devem se meter nos negócios dos homens, finalmente ela teve seu primeiro filho Sebastião Pereira dos Santos e na esperança de salvar o casamento tentavam ir pra igreja e montaram um sacolão de legumes pra que ele ficasse mais em casa.
Mas não deu certo depois de ter sua segunda filha Maria Aparecida que era muito apegada com Osvaldo, as saídas e sumidas dele começaram a ficar mais frequentes e a falta de dinheiro e brigas na casa também.
Depois ela teve minha mãe e quando estava de barrigão da tia Mariana eles decidiram se separar já que ele estava construindo outra família em outro estado.
Daí para frente minha avó cuidou de todos os filhos quase sozinha meu tio Sebastião começou a trabalhar muito cedo e se tornou o único homem da casa e ajudava bastante, e meu avô foi um homem muito ausente e insensato com vínculos.
Não mandava nem cartas ele simplesmente seguiu em outro estado com outra família.
O tempo foi passando e minha avó Ernestina tentou fazer de tudo por seus filhos sempre tentando manter alguma espécie de contato com meu tio Sebastião e eles conseguiam se comunicar por cartas escritas a mão pelos correios.
E foi se assim até a minha chegada com algumas subjetividades que toda família tem.

Cap.3
UM PRESENTE DE DOIS SEMELHANTES EM UM

Eu Maria Eugênia gostaria de compartilhar um pouco do meu presente com vocês e depois ao longo do livro continuarei destacando pontos fortes da minha caminhada até aqui.
Esse é um dos textos que escrevi que descreve bem esse momento:
“Presente
Olho para os traçados das mãos que me indagam as mais distantes ou próximas possibilidades.
Sim, uma parte do universo, uma gotinha, um grão de areia nessa imensidão de possibilidades.
Tentando contar ou se aproximar do infinito, quem dirá se aparecer mais uma nas contas ”INT”.
Até aqui tudo foi tão vazio, parece dois em um.
Caminho com os pés descalços mais uma vez tão distantes sem saber em que parte a folha da mangueira vai cair. ”
Olhando agora para esse texto que escrevi no ultimo dia do meu ensino médio me percebo como pouca coisa mudou.
Como tenho andado por voltas ou círculos olhando para o luar tentando sentir as emoções que de tão repetitivas vão perdendo o sentido ou euforia.
Os pés flutuam e me contrastam uma possibilidade só minha de mundo único meu.
Flutuando no meu circulo até chegar o luar.
Subindo mais alto até a realidade ou alguém chamar Maria Eugênia.
Falando sozinha no meu circulo encontro a paz interior, minha meditação positiva é doença para os observadores radicais.
Mas só eu sei como os pés descalços e o vento no cabelo sem pentear me fazia bem.
Esse não pertencer a lugar nenhum por um instante.






Cap.4
UMA SEMENTE CHAMADA SEGREDO
Desde a grande descoberta conturbada da minha mãe muitas coisas começaram a acontecer.
Meu tio Sebastião parecia estar cheio de problemas e resolveu mudar de estado de última hora.
Vez por outra minha avó Ernestina se pegava pedindo para minha mãe ou tia Mariana ler as correspondências que ele enviava pelo correio.
Os meses foram passando e a barriga da minha mãe começava a apontar, ela era muito agitada e não conseguia ficar parada e resolveu trabalhar alguns dias para conseguir um dinheiro para que pudesse comprar algumas coisas para mim.
Uma amiga dela chamada Neiva precisou tirar umas férias e a patroa dela perguntou se não tinha alguém para cobrir as férias dela, e ela se lembrou da minha mãe.
Um dia um dos namorados dela chamado Eduardo resolveu a visitar depois de um tempo, percebendo que ela estava muito sumida.
Ele era militar, forte com traços masculinos bem desenhados no corpo e um coração muito bonito.
Quando minha mãe abriu o portão e viu que era ele deu um abraço bem apertado nele, ele sentiu uma pequena saliência no abraço já que eles já tinham saído algumas vezes e perguntou a ela se ela estava grávida.
Com os olhos lacrimejando minha mãe falou que sim e evitou entrar em detalhes como sempre.
Eduardo conversou bastante com ela e disse que isso não mudava nada entre os dois e que ele já tinha vontade de saber como seria o meu rostinho.
Minha avó Ernestina nessas visitas sempre ficava um pouco pensativa e incomodada com essa filha irresponsável cabeça de vento que ela tinha.
Eduardo morava sozinho e já chegou a levar ela pra dormir algumas vezes lá com ele, mas a relação dos dois segundo minhas investigações era estranha tipo parecia amigos modernos demais sabe.
Enquanto ele se despedia outro rapaz chamado Jalles olhava os dois da esquina, minha avó odiava esse tal porque ele era muito grudento e vivia fazendo propostas de casamento a minha mãe que sempre recusava.
A tia Mariana me falou que ela falava que ele beijava muito mal.
Jalles só esperou Eduardo sair e se aproximou chamando minha mãe para sair e tomar um lanche por ai e você não acredita que ela acabou subindo na moto e resolveu ir lanchar.
Não é difícil conseguir imaginar minha avó indo lá fora olhar a rua e balançar a cabeça.
Ela me contou que se olhava muito no espelho durante a minha gestação e que tinha certo medo normal.
Principalmente com seu corpo, ela era uma negra do nariz chato muito bonita por onde passava chamava a atenção de curvas arredondadas tão acentuadas, Jalles dizia que ela parecia aquelas mulheres atraentes que desfilavam no carnaval já minha avó implicava sempre com o modo dela se vestir, incomodada dizia algumas vezes que ela parecia as chacretes dançarinas do Chacrinha um apresentador de televisão que minha mãe Maristela adorava assistir.
Os meses foram passando e quanto mais apontava a barriga mais os amigos se distanciavam, ela me contou que quando disse ao meu pai que estava grávida ele desapareceu e não adiantava por quantas mais investidas eu desse tentando alguma pista a fuga do não lembro era certa.

Que mais tarde quando eu já havia nascido ele havia aparecido, mas que ela não deixou ele me ver.
Mas voltando pra gestação minha avó Ernestina teve uma atenção muito especial com minha mãe sempre fazia uma boa alimentação com vitaminas.
E ela trabalhou quase até o último mês e me disse que foi tranquilo quando ela percebeu que estava perto ela e minha avó foram de ônibus ao hospital e pra voltar ela já havia guardado dinheiro para o taxi para um maior conforto.
Tia Mariana já havia costurado algumas roupinhas e ela comprado mais algumas coisas e ganhou algumas outras dos antigos patrões como brinquedos por exemplo.
Não sei por que, mas quando tento lembrar-me da minha memória de infância mais fixada sempre me lembro de um silêncio muito grande e um quarto azul com paredes longas e cortinas brancas com longos coqueiros desenhados nas pontas.
 É bem forte isso me lembro de olhar com mistério o que dava pra pegar de novo desse mundo que começava a se apresentar.

CAP.5
A INFÂNCIA

Lembro-me de todos os brinquedos tinha um que me acalmava muito e funcionava muito minha avó me dar para que me acalmasse uma caixinha de música muito elegante que tocava uma música clássica que não sei bem de quem é quando girava um botão tocava, os antigos patrões dela haviam me dado.
Eu me acalmava enquanto observava com curiosidade e tentava girar e conseguia mesmo de forma um pouco sem jeito com os dedos aquela manivela.
A lágrima da birra secava ao se atentar para coisas construídas antes de mim e que estavam ali na minha mão para ser exploradas.
Maristela não era uma mãe muito presente acabou seu resguardo e já estava desinquieta experimentando suas calças jeans mais justas e apertadas enquanto tia Mariana e minha avó se atentavam ao máximo para mim.
Ouvi dizer que meu pai chegou a ir tentar me ver depois de todo esse tempo com dois meses, mas a dita cuja não aprovou a ideia. E Maristela naquela agitação que já falei para vocês aqui começou a trabalhar novamente e a estudar.
Dava uns agrados para a tia Mariana por ficar comigo enquanto ela trabalhava com umas roupas novas.
Mas minha avó Ernestina arretada do jeito que é sempre dava uns puxões de orelha nela, quando minha avó via que ela estava saída demais falava para ela me levar para escola que ela não iria ficar com criança pra ela aprontar as farras dela.
E Maristela acabava levando.
Aquele amigo dela o Eduardo voltou a se aproximar dela e começou a me dar muitos brinquedos de menina.
Ele elogiava como o corpo dela tinha se recuperado rápido e ás vezes nos finais de semana ela me levava pra ficar um pouco lá na casa dele.
Algumas memórias e sensações ficaram de forma muito forte na minha memória como sentar na areia com brinquedos e sentir a sensação ao brincar lá.
Como olhar o vento tocar na grama verde e alta e balançar ou mesmo as já citadas cortinas com coqueiros no quarto azul que são minha lembrança de infância mais forte devido ao quarto que eu ficava.
Alguns estudiosos dizem que algumas lembranças só ficam fortes depois dos cinco anos, mas não sei por que me lembro bem com quase certeza dessas primárias.
Enquanto minha mãe trabalhava muito, tia Mariana ficava muito comigo e me ensinou as cores e os números.
Lembro-me que ela tinha uma estante cheia de livros e sempre contava histórias diferentes como eu não sabia ler sempre ficava encantada com as ilustrações como eu tinha pavor do lobo da história do chapeuzinho vermelho e eu ficava olhando as figuras dele no livro ao mesmo tempo do pavor existia a curiosidade que eu tinha por ele.
Por ser minha história favorita sempre me causava um suspense inexplicável a cada vez que ele chegava mais perto de devorar alguém na história.
Nessa época minha mãe começou a morar na casa do Eduardo e nos finais de semana me levava para lá.
Minha avó Ernestina sempre fazia umas vitaminas diferentes e sempre reclamava dizendo que quando eu voltava da casa do Eduardo estava magra por não me alimentar direito e comer muitas besteiras.
As besteiras para ela eram os chocolates e guloseimas que ele me dava e que eu amava e que sim de certa forma me desmotivavam a encarar as refeições cheias de legumes que ela fazia para mim.
Outra coisa que eu gostava muito era de cantar músicas com a tia Mariana quando ela estava ensaiando para cantar na igreja com o violão e ela sempre cantava umas infantis para me alegrar.
O tempo foi passando e minha mãe começou a me deixar mais na casa da sua relação não sei ainda hoje como posso chamar isso, talvez um caso duradouro.
Eduardo falava que estava passando da hora de me matricular em uma escola e que ele iria pagar uma escola particular para mim.
Com o tempo foi ficando natural a palavra pai entre eu e ele, mas a família dele sempre era uma incógnita para mim e talvez para minha mãe.
Lembro-me que fazia longas viagens nos finais de semana de vez enquanto minha mãe ficava comigo no lar para ele.
Eu me lembro daquele pavor de começar a estudar, aquela dificuldade de sair da zona do conforto, tinha um medo da escola que não consigo explicar.
Comecei na escola muito atrasada com sete anos de idade e a escola era particular e se chamava Raio de Luz, não sei por quais motivos, mas foi muito difícil meu entrosamento com a turma me lembro de episódios desagradáveis como fazer necessidades na roupa por não ter coragem de pedir.
Eu era uma criança sempre atrás da turma, isso era fato.
Naquela época eu passava pelas trocas de dentes e minha mãe Maristela tinha uma super paciência para com esse momento meu.
Recordo-me de pegar o alicate para me passar medo para tentar fazer com que arrancasse logo os dentes de leite, e me lembro dela arrancar alguns dentes de forma tão bruta da minha boca.
Não só essa lembrança, mas lembro de como eram doloridas as investigações para ver se tinha pegado piolho na escola.
Uma coisa eu tinha certeza era uma criança muito distraída e com a imaginação muito fértil.
Assistia desenhos animados e depois no quintal sozinha me imaginava viver mesmo em um desenho animado de forma tão natural.
A relação da minha mãe com o meu pai, opss Eduardo não estava nada bem e segundo o que minha avó Ernestina me contou eles se separaram e ela novamente voltou a morar com minha avó.
Como não tinha quem pagar a escola parei a escola e além do mais a casa da minha avó era em outro bairro e ficava muito distante.
E na metade do ano ela conseguiu me matricular em uma escola pública e tudo novo novamente.
O tempo foi passando e como eu tinha dificuldades com os números suas ordens e suas regras acho que devido ao meu tão aberto.
Me lembro da tia Mariana viver tentando me ensinar a amarrar o cadarço do tênis que era muito difícil para mim, quase nunca saia, saia por sorte um amarrado mal feito, as vezes ela ficava sem paciência e terminava o nó e eu fingia sempre que já sabia mas não e outra era minha dificuldade com a direita e a esquerda.
Estava um pouco mais a frente na escola quando o Jalles voltou a se aproximar novamente com propostas a minha mãe.
E ela começou a sair com ele, e decidiu morar com ele em barraco alugado nessa época minha avó me contou que ela tentou conversar com ela pedindo para que ela me deixasse morar com ela, mas isso não aconteceu.
E com o tempo eu estava novamente em outra escola diferente e passando por sérias dificuldades em matemática.
Algumas vezes minha mãe pedia para Jalles me dar uma ajuda com a matéria mas não tinha muita paciência e me lembro de algumas grosserias quando eu errava alguma conta.
Jalles era muito inteligente, mas a família dele não admitia aquela relação dele com a gente. Tinha olhos verdes e era bem afeiçoado com seu cabelo claro.
Mas era muito impulsivo e não conseguia estabelecer compromissos duradouros.
Ouvi dizer que nessa época chegamos a mudar algumas vezes de casa e bairro e minha mãe teve uma filha com ele a Leticia que por onde passava encantava todo mundo de tão bela.
Tinha os mesmos olhos e cabelos do pai.
Com o tempo eu comecei a ir à escola com minha irmã e confesso que me senti um pouco incomodada como a forma que ela chamava mais a atenção para ela.
Eu uma negrinha do nariz chato do lado de uma princesa loira dos olhos claros.
Muita gente nem acreditava quando Jalles não estava perto da minha mãe que minha irmã Leticia era filha dela de tão diferentes que elas eram uma morena e outra branca de olhos claros.




Cap.6
PUBERDADE E REBELDIA
O tempo ia passando e minhas relações com minha mãe e Jalles já não iam bem muitas brigas, eu gostava de ir a casa da minha avó e sempre desabafava.
Até que um dia de tão desagradável comecei a morar com ela e deixar os três juntos.
Na época eu vivia um conflito muito intimo e sabia não significar normal perante os olhos da sociedade.
Isso mesmo, eu gostava de meninas e era uma garota.
Desde pequena eu sabia disso, me encantava com a delicadeza das garotas, mas queria o ar despojado dos meninos em mim e por dentro essa essência existia.
Odiava os vestidos que minha avó Ernestina costurava na máquina para mim e os laços de cabelo então, mas sempre guardava por educação.
Nessa época meu visual era uma calça jeans comum de todos os dias e uma blusa folgada quase sempre masculina que descolava e pedia emprestado de um amigo meu da adolescência chamado Robert e nunca mais devolvia.
Acho que no fundo ele achava legal me ver vestida nas camisetas dele.
Quando minha mãe ia me visitar como implicava com meu modo de vestir, ela falava para minha avó:
-Mãe você está percebendo que esta menina está andando aos trapos INT.
Minha avó sempre respondia deixa ela e parecia sempre ser uma mulher a frente do seu tempo que me entendia.
Eu, minha avó e tia Mariana íamos a igreja toda semana e o meu interior sabe como eu clamava a Deus para que tirasse aquelas atrações proibidas e erradas das minhas vontades mas a cada dia parecia ficar mais forte e ele parecia não me entender ou não me escutar.
Na escola depois que comecei a morar com minha avó minhas notas finalmente começaram a melhorar acho que tinha acabado de entrar no ensino médio.
Tudo era novo nessa época, meu corpo mudava constantemente e o sangue fervia de tanta curiosidade e vontade de me aventurar.
Eu não tinha muitas amigas, conversava o básico com algumas meninas da minha sala, mas meu melhor amigo era o Robert que era da mesma sala.
Eu gostava muito por que com ele eu podia fazer coisas de garoto e ele achava legal ou pelo menos parecia.
Soltávamos pipa, jogava futebol com ele e conversávamos sobre carros.
Robert era também um adolescente rebelde, mas trabalhador e desde cedo teve de aprender a se virar sozinho e já ajudava seu tio em uma oficina de carros e eu achava legal esperar ele chegar na porta da escola.
Ele sempre chegava com sua moto barulhenta. Que segundo ele o tio dele foi juntando de peças velhas e deu a ele.
De vez em quando ele ia lá à porta de casa, mas minha avó odiava o estilo do sujeitinho e chamava o Robert de cão.
Mas acho que a nossa amizade até hoje foi uma das mais saudáveis apesar de tudo.
A noite sozinha no meu quarto me despia a frente ao espelho e como ficava descontente, parecia não fazer parte do meu universo aqueles seios, aquelas voltas e tudo o que eu queria era ser mais prática odiava os ciclos.
Tudo o que eu queria naquele momento era só ser mais um dos amigos de ombros largos do Robert, e jogar futebol com eles sem eles terem medo de me machucar.
Todos achavam que eu jogava bem, mas por ser menina sempre era a última a ser escolhida ou se estivesse faltando algum menino e como eu odiava isso.
E o Robert sabia disso ele ria e falava faltou um saco aí.
Me recordo de um dia chegar com a roupa toda suja e rasgada de tanto cair  tentando aprender andar de skate com o Robert e os meninos do bairro lá na pracinha.
Cheguei nas pontas dos pés tentando não fazer alarde e já era tarde da noite e abri a porta quase arrastando não adiantou muito e minha avó Ernestina já me esperava em pé com a cara amarrada e dizendo coisas como “isso não é hora de uma moça estar na rua” ou “já falei que não quero você andando com esse cachorro selvagem “ ou pior ainda “vou te proibir de andar com esse tanto de macho e te concertar.”
Dessa vez me lembro de ficar bem calada por saber que estava bem errada mesmo era primeira vez de muitas que viriam por vir que eu chegava tarde sem avisar.
Sobre meu sonho de saber meu lado paterno nessa época eu tinha uma sensação estranha de ele me observar sempre de longe, parecia a sensação louca que eu tinha de ele saber quem eu era dele mas que eu jamais iria saber o que ele era na minha de verdade, ou seja maior loucura mesmo.
Apesar de não ter muito contato minha irmã Leticia, Jalles e minha mãe iam lá de vez em quando me visitar, parecia uma família que levava a vida muito bem, não sei preferia não me envolver aos detalhes, foi sendo construído entre a gente tudo bem básico e superficial, aquela coisa de fazer vista grossa e cada um levar a sua vida pessoal.
O que eu sei é que diferente de mim na época minha irmã estudava em escola particular e as vezes os amigos dela pegavam no pé dela alto dizendo coisas como olha lá sua irmã estranha, e não me importava com as vezes que ela passava e me ignorava enquanto estava na praça com a galera do bairro.
Nessa época minha tia Mariana continuava na mesma com sua vida entregue a igreja só que aconteceram algumas coisas além de alguns namorados de igreja que nunca davam certo, aqueles patrões que ela trabalhava com eles desde a época que eu era uma criança resolveram a dispensar.
Já fazia um tempo que os filhos deles haviam crescido e não precisavam mais de uma babá então ela ficou durante mais algum tempo só com os afazeres domésticos e depois saiu.
Durante essa fase que estou lhes contando estava me aproximando dos meus quatorze anos e minha relação familiar estava meio distante não que eu não gostasse da minha vó da minha tia e dos outros mas parecia que eu queria explorar sozinha um mundo que me esperava mesmo com todas as suas portas, possibilidades e perigos.
Então nessa época as confidências entre eu e minha avó Ernestina diminuíram bastante e a cada dia me desabafava e explorava mais o mundo ao lado do Robert e a galera do bairro.
Nessa época que relato agora Robert estava mais ocupado o tio dele havia viajado e deixado a oficina com ele e outro rapaz de confiança dele para levarem a frente, ele estava faltando muito a escola, algumas vezes depois da aula eu passava lá com vontade também de entrar debaixo dos carros, tirar a camisa e me sujar de graxa mas ele estava tão ocupado que quase nem me dava atenção.
Eu voltava pra casa meia tentando aceitar mas sentindo falta da irresponsabilidade que estava começando a faltar nele.
Depois de alguns dias me acostumando com a abstinência resolvi sair mais cedo e dar uma volta em um parque que ficava no final do nosso bairro.
Agente costumava chamar esse lugar de Green Park mas na verdade tinha um nome feio de um cidadão que foi homenageado que prefiro nem mencionar de tão feio que acho.
Minha avó vivia me dizendo para nunca ir aquele lugar sozinha e realmente já havia acontecido coisas lá como em outros lugares públicos de lazer como assaltos, estupros, mortes e outras coisas.
O Green Park era amplo tinha uma pista de skate em cimento na entrada e depois muitas árvores com uma longa pista pra caminhada, um lago no meio além de alguns bancos e um quiosque.
O dia estava quente com muitas folhas no chão e sentei na grama e comecei a olhar pro lago, pra grama pro céu sem me lembrar da hora de voltar pra casa.
Fiquei bem tranquila e calma, há tempos não me sentia tão bem, uma terapia.
De repente comecei a sentir um cheiro diferente que eu jamais havia sentido bem doce e chamativo que me convidava a investigar da onde vinha.
Quando olhei para o lado havia uma moça muito bonita com os lábios carnudos e um vestido bem folgado e confortável.
Do seu lado havia um objeto diferente que soltava uma fumaça que eu jamais tinha visto, ela fumava um cigarro diferente.
Ela me olhou também e eu gelei, tinha os olhos verdes e um cabelo enorme muito lindo cacheado tingido de ruivo era tão vivo e brilhante.
Depois de um longo tempo ela e eu nos encaramos novamente e ela me disse vem pra cá e eu fui toda nervosa sentar perto na grama daquela personalidade tão interessante.
Conversamos durante algum tempo e o papo foi muito bom ela me disse que se chamava Sabrina que estava fazendo faculdade e tinha 21 anos.
Movida pela curiosidade não consegui deixar de perguntar a ela o que era aquele objeto e ela me explicou que era um incensário dela e que o que queimava e soltava aquela fumaça perfumada era o seu incenso.
Sabrina me disse ser amante da magia da natureza, eu disse a ela que gostaria de aprender mais sobre essa magia mas ela me disse que ninguém pode forçar ninguém a escolher ou aprender nada as coisas tem que acontecer com amor, de forma pura e com vontade.
Eu me calei sem graça, ela olhou bem fundo nos meus olhos e não consigo esquecer esse momento, e colocou a mão dela sobre as minhas e disse eu posso te explicar calmamente por etapas mas temos que ir com calma.
Trocamos telefone e fui pra casa super feliz, era cedo mas eu acreditava que já tinha achado a minha garota, haha eu e meu homem interior.
Marcamos de nos encontrar novamente na segunda feira no mesmo local no Green Park.
Cheguei em casa naquele dia e minha avó me perguntou por que havia demorado tanto e inventei que tinha combinado de pegar umas peças para o Robert na casa de um amigo dele.
E fui para o meu quarto, a sexta inesquecível passou e estava terminando o sábado e eu pensando na Sabrina quando o Robert me ligou.
Ele estava me chamando para uma festa secreta que ele estava dando na casa do tio dele, eram seis da tarde e prometi pra minha avó que até as dez estava em casa.
É claro que não é legal adolescentes ou crianças abusarem de álcool mas Robert começava a me parecer estar um pouco a frente do seu tempo.
Quando cheguei lá o Robert me recebeu bem diferente com uma cerveja na mão.
Ele me parecia agitado, eufórico eu comecei a contar pra ele da garota massa que eu havia conhecido e ele me cortava sempre como se não prestasse mais atenção como antes e outras horas me apresentando umas garotas e garotos que pareciam ser adultos que também bebiam e dançavam uma música eletrônica que nós dois não curtíamos.
Depois de terminar de contar Robert me deu uma lata de cerveja que não consegui terminar de tomar enquanto uma garota encorpada e loira o abraçava o arrastando para o lado que a música tocava.
Fiquei lá um pouco e depois fui embora.
Cheguei em casa e comecei a pensar em como as coisas estavam mudando rápido demais peguei meu celular e escrevi uma mensagem enorme para a Sabrina contando como eu havia gostado de conhecer ela e que estava ansiosa com a segunda feira.
Já era domingo e na hora de enviar apaguei tudo e não tive coragem, estava me sentindo sensível demais.


CAP.7
SABRINA E A MAGIA DA NATUREZA


A segunda feira finalmente chegou, eu já tinha maquinado tudo na minha cabeça a sair novamente da aula mais cedo e descer para encontrar a Sabrina no Green park, porém antes do intervalo chegar ela me enviou uma mensagem me perguntando se eu poderia encontra-la a noite naquele quiosque perto do lago respondi que sim.
Tentei perguntar a ela do porque a noite se nos conhecemos no dia e Sabrina me respondeu que quando chegasse o momento iria me esclarecer mas tinha sim um motivo segundo ela escrito na mensagem pra ela começar a me explicar toda essa devoção dela pela natureza sobre o luar.
Cheguei em casa no horário normal e um pouco chateada pois estava na expectativa de encontra-la o mais rápido possível mas parece que a cada dia que se passava eu ia descobrindo que Sabrina era totalmente imprevisível e as vezes me parecia cheia de ciclos e regras que foram construídas na personalidade dela.
Sentei lá na porta e fiquei pensando numa desculpa para passar para minha avó na volta que eu precisava dar aquela noite, quando de repente me chega o Robert abraçado a uma garota bem magra e branquela que se chamava Karine.
Ele me contava em pé com o sorriso no rosto que os dois estavam namorando, e eu dava minhas sinceras felicidades aos dois sentada olhando para a cara de bobo que ele estava.
O Robert sempre estava um pouco atrasado na escola e era da minha sala nessa época acho que ele estava quase não indo as aulas e enquanto eu tinha alguns quatorze ele já tinha dezessete mas nem parecia de tanto que nossa amizade era sincera e produtiva.
Entrei lá dentro deitei no sofá e fiquei pensando e imaginando tantas coisas que podiam acontecer nesse meu encontro de segunda feira.
O tempo foi passando e a tarde chegava comecei a me arrumar , inventei para minha avó Ernestina que ia dar uma volta na casa de uma amiga do Robert.
Me olhava no espelho e penteava meus cabelos negros cacheados que pareciam estar ficando cada vez mas crespos coloquei uma jaqueta jeans azul e uma simples camiseta com calça folgada e tênis esportivo.
Depois de pronta e tentando uma alta confiança que se seguia com um leve nervosismo comecei a descer a rua de casa para chegar ao Green Park o tempo estava sereno com uns ventinhos surpreendentes que arrepiava agente.
Quando cheguei lá Sabrina já estava sentada em uma das mesas do quiosque com um suco nas mãos me parecia de laranja, ela estava com um vestido longo bem cinza e folgado e um colar prateado.
Quando ela me viu veio me abraçar sem soltar o copo de suco, sentei na mesa e já havia outro copo de suco de laranja a minha espera, Sabrina me perguntou se eu gostava do meu nome Maria Eugênia e se poderia me chamar assim mesmo ou tinha algum apelido, eu falei que ela poderia me chamar de Nia pra ficar mais fácil.
Ela começou a me contar que esse caminho que ela me explicaria tem que acontecer sempre de forma natural e nunca com regras ou critérios deve existir amor e respeito pela natureza ao máximo.
Falou-me que tinha primas que seguiam a Wicca e tinha uma avó que era uma bruxa solitária mas ela decidiu seguir um caminho diferente ser uma bruxa simples da natureza.
Diferente do que muitas pessoas pensam as bruxas não são só as velhas maldosas e narigudas e nem sempre se vestem de preto, e era verdade estava ali na minha frente uma garota muito linda e inteligente que ia fazendo cada vez mais uma garota tão insensível como eu se apaixonar por detalhes da natureza.
De repente ficou um silencio e ela me perguntou se eu tinha alguma pergunta a fazer, e eu me lembrei e perguntei a ela porque esse nosso encontro de segunda feira aconteceu a noite.
Sabrina soltou um sorriso muito meigo e olhou para cima, para o céu estava uma lua linda cheia e céu cheio de estrelas e eu olhei também o que não havia percebido, aliás há muito tempo que a minha pessoa não olhava para o céu.
Ela me contou que existem várias linhas de seguir mas a dela é muito simples pode representar qualquer coisa só meditando ou imaginando, invocando seu amor e respeito a natureza e que existia uma lei tríplice que é a lei do retorno tudo que você faz de bom ou mal retorna.
Ela disse que tinha muita coisa a me explicar e que tentaria o importante em uma semana e que voltando a minha pergunta ela escolheu começar os nossos encontros a noite porque ela acredita que cada dia da semana é regido por um planeta e a segunda feira é regida pela lua, nós duas olhamos rápido para o luar e voltamos a sorrir e que na segunda feira é um ótimo dia em coisas que se podem apoiar ou construir, assim como fazer bem aos outros.
Ela me disse que a lua está ligada ao elemento água e também por isso ela queria ficar mais perto do lago, de repente Sabrina me olhou e começou a mexer em sua bolsa e tirou de lá um bolo e disse que tinha feito na casa dela e guardado um pedaço para mim, enquanto eu comia o bolo ela me dizia que era um bom dia para agradar família ou pessoas que você admira.
Depois de conversarmos mais um pouco sobre outras coisas nos despedimos e marcamos para a terça feira naquela grama do primeiro dia.
Eu estava indo embora para casa tão feliz que caminhei até alguns passos olhando para o luar.
Cheguei em casa e minha avó já estava dormindo e tia Mariana tocava violão no quarto, entrei tentando não fazer muito alarde e deitei na cama pensando em tantos detalhes que existiam para Sabrina em uma segunda feira já que pra mim era só mais um dia qualquer.
A terça feira chegou como um flash acordei de manhã e coloquei uma camiseta vermelha que agente tinha feito do time de futebol do bairro, tinha até meu apelido atrás Nia e o número 5 que eu gostava de jogar.
Dei uma geral no cabelo e tomei café com minha avó enquanto inventava para ela como tinha sido meu dia com Robert ontem.
Estava descendo com minha mochila pra escola quando de repente o Robert veio do meu lado com a mochila dele nas costas e o seu velho skate dentro me falando que ia a escola hoje, eu sorri zombando dele e fomos juntos.
No caminho nesse dia me lembro dele me contar que ele iria sair mais cedo para andar de skate no Green Park e tinha marcado de encontrar Karine lá, e me chamou pra ir também eu aceitei já que eu já ia encontrar a Sabrina lá mesmo, além do mais já estava com saudade de andar de skate com ele, só não tinha levado o meu nesse dia, mas o bom é que ele sempre me deixava dar uma volta.
Na sala de aula a cara do pessoal e da professora com o aparecimento do Robert era muito engraçado ele só falou curto e grosso que o tio dele tinha voltado de férias.
Quando chegamos no Green Park a Karine já estava lá esperando o Robert mas nada da Sabrina aparecer, eles perceberam que eu olhava para os lados tentando encontra-la , depois conversamos um pouco e o Marcelo chegou com uma bola de futebol e eu e Robert fomos jogar com ele e outros garotos que estavam lá , no campo improvisado que eles haviam montado do lado do Green Park, sei que já estava suando e chutando no gol e era a vez de Robert chutar quando olho pras escadas e vejo Sabrina do lado de Karine me olhando jogar confesso que fiquei um pouco sem graça e fui lá falar com ela.
Chegando lá ela sorriu e disse pra mim que eu estava sem saber agindo certo no dia certo e nos duas começamos a andar pela pista de caminhada e conversar.
Ela me contou que quase não deu pra ela chegar a tempo, mas que iria tentar cumprir todos os dias da semana, ela estava diferente hoje.
Seus longos cabelos vermelhos estavam presos com um lindo brinco de penas só de um lado e usava uma blusa vermelha leve, uma calça Jeans e tênis parecendo que já sabia que ia caminhar.
Ela me contava com passos calmos que a terça feira para ela se correspondia ao planeta Marte e pertencia ao elemento fogo.
Me contou que riu e ficou feliz de me ver em uma disputa de futebol e jogos masculinos para uma menina por que esse dia é ótimo para tudo que está ligado a disputas de qualquer esporte até uma troca de socos.
Ela parou e colocou a mão nos meus ombros suados e disse que quem precisa de muita coragem ou dar o primeiro passo em alguma coisa esse poderia ser um dos ótimos dias, atividades masculinas em si, me contou que a tia dela usava muito alguma coisa vermelha amarrada ao braço ou roupa quando precisava absorver energia de Marte e que ela também fazia muito isso.
Para ela a energia de Marte favorece o sexo, paixão e coragem.
Eu nem sei te falar nessa hora como eu estava com vontade de puxar ela pela cintura e a beijar, mas nesse momento o celular dela toca e logo se despede.
Quando voltei para o campo improvisado o Robert saia todo suado sem camisa e com seu skate de mãos dadas com Karine e fomos embora conversando coisas simples que a própria Karine não se assustaria.
Cheguei em casa e minha avó Ernestina estava lavando muita roupa e me perguntando sobre aquele suor excessivo que eu transparecia.
Enquanto aquele tanque elétrico barulhento batia roupas ela se sentou do meu lado e perguntou no que eu tanto pensava, disfarcei e perguntei sobre minha maior curiosidade novamente o mistério da minha parte paterna de sangue.
Ela ficou calada durante algum tempo como se soubesse de alguma coisa e depois mudou de assunto e me pediu para ler uma correspondência que o tio Sebastião havia enviado pelo correio. Nessa época os celulares estavam começando a ficar acessíveis, mas ainda nesse tempo meu tio e minha avó se comunicavam raramente por carta e outras vezes ela usava um cartão com unidades no orelhão da esquina e me pedia para discar mas não era sempre que o tio Sebastião respondia a ligação.
Raras vezes ele ligava e a vizinha que morava de frente ia correndo lá em casa chamar a dona Ernestina que ansiosa por noticias saia correndo de qualquer jeito com medo de perder a ligação. Tinha meu celular mas não sei porque minha avó teimava em usar somente o orelhão e achava meu aparelho uma frescura.
Depois fui tomar um banho e fiquei trocando mensagens com o Robert e outros amigos da minha sala pelo celular.
Dormi ansiosa torcendo para a quarta feira no Green Park ser ainda mais excitante que aquela vontade vermelha de terça feira que eu estava de puxar a Sabrina pela cintura.
Enfim, a quarta feira chegou e depois da aula desci muito ansiosa no mesmo horário para encontrar Sabrina quando estava descendo um aperto tomou meu peito quase que dolorosamente ela estava sentada com outro cara na grama, eu fiquei pensando muitas coisas na minha cabeça se era namorado, irmão sei lá.
Sabrina estava linda naquela quarta feira esbanjada na grama com seu amigo, vestia uma longa saia marrom com uma blusa verde e seus longos cabelos soltos.
Quando cheguei ela me apresentou aquela figura que se chamava Richarlyson Lafaiet , esse amigo dela conversava muito engraçado era uma voz grossa tentando ser fina e uns jeitos afeminados descontrolados em um corpo masculino e depois de muito tempo já tinha quase a certeza de se tratar de um homossexual.
Fugindo um pouco do assunto aqui nessa parte quero deixar claro que não tenho nada contra mas nessa época me soou meio estranho para mim , já tinha ido a algumas festas GLS com amigos e beijado alguns rapazes e garotas por aventura e até tido uma relação com um garoto sem vontade só para ver como era mas , eu e minha personalidade já tínhamos a certeza que eu gostava de meninas e era uma menina mas entender isso no jeito afeminado dos meninos por mais natural que eu tentasse entender se tornava um pouco difícil pois tudo o que eu queria ser era o que eles lutavam em não aceitar.
E também nunca tinha tido um amigo gay ou homossexual garoto independente de rótulos e disfarçadamente naquele nosso papo de quebrar o gelo entre os três comecei a pensar nisso tudo.
Sabrina me olhou e olhou para Lafaiet queria buscar uma bebida para nós três no quiosque mas o dinheiro dela não estava trocado muitas moedas e eu comecei a revirar meus bolsos e também parecia estar numa desordem total e tirei o que tinha do bolso tentando ajudar ,Lafaiet numa sabedoria muito grande perguntou quanto ela tinha pegou o meu dinheiro da minha mão e trocou o dinheiro de todo mundo e se levantou calado, parecia que já conhecia bem Sabrina e os dois já estavam bem entrosados.
Enquanto ele se movia ao quiosque para buscar nossa bebida compartilhada ela me contava que a quarta feira pertencia ao planeta Mercúrio, que Lafaiet era um amigo que ela gostava muito e que a energia dele combinava muito com esse dia, na quarta feira geralmente ela acreditava que combinava com tudo que tem haver com negócios e que no início a energia de mercúrio pode parecer confusa pois muda constantemente e favorece a mente consciente, estudos e sabedoria.
Lafaiet voltou com um suco grande em caixa natural e alguns copos descartáveis ele começou a se apresentar de forma inteligentíssima e me contou que trabalhava momentaneamente com vendas com a Sabrina e que fazia faculdade de Psicologia.
Estava melhorando aquela fobia escondida minha daqueles homossexuais exagerados que falavam alto no ônibus quando nos despedimos e comecei a voltar pra casa pensativa, quase flutuando, as vozes dos dois na cabeça, quando de repente um carro buzina fortemente parando alguns centímetros de mim.
Sim, por distração naquele dia quase fui atropelada, tinha umas lojas exotéricas na rua das flores perto de casa e resolvi passar por lá e olhar as coisas antes de chegar em casa já que nunca tinha passado lá.
Me encantei com meus primeiros incensos e resolvi comprar alguns, tentei cheirar tentando achar aquele mesmo perfume dos da Sabrina mas não dava eles se misturavam, então comprei dois um de erva doce e outro de almíscar.
Cheguei em casa e fiquei um tempo olhando os incensos e resolvi pela primeira vez pesquisar na internet meia sem muita certeza de fé para que cada um daqueles seria indicado.
Tinha que tomar cuidado pois em lar totalmente evangélico aquela fumaça doce poderia ser alvo de contenda e fortes críticas.
Como estava meio sem graça de ter entrado naquela loja peguei os incensos meio com pressa sem escolher direito e foi um de Almíscar e outro de erva doce na minha pesquisa sobre o de Almíscar dizia que eles eram bons para intuição, atração , entusiasmo e afrodisíaco.
Empolgada fui para a pesquisa da erva doce  que dizia que promovia a harmonia, acalmava e era ideal para descanso e meditação.
A minha mão coçava de vontade de acender um mas minha avó Ernestina tinha o faro muito aguçado, ela sentia até o cheiro das roupas que eu guardava novamente no armário para repetir, fato que eu nunca conseguia realizar.
Mas, enfim peguei e guardei escondidos meus primeiros preciosos incensos debaixo do guarda roupas.
Rolava na cama e já estava quase chegando a quinta feira aquele tanto de coisa da semana inteira e Lafaiet falando na cabeça depois Sabrina sei que demorei pegar ao sono.
A quinta feira chegou fui a escola meio sonolenta e menos ansiosa do que nos outros dias, Robert faltava mais uma vez.
Sai no horário combinado para encontrar a Sabrina e chegando lá ela parecia estar com um ar pessoal mais diferente um pouco mais triste e mais centrada em algum conflito que ela estava vivendo e guardava para ela.
Nesse dia ela estava bem discreta com uma calça jeans, blusa roxa e cabelos presos.
Eu olhei nos olhos dela e perguntei o que estava acontecendo, pois ela me parecia triste, ela disse que eram coisas que todo mundo passa, só alguns problemas de trabalho e começou de forma direta me falando sobre a quinta feira.
Para ela a quinta feira era regido pelo maior dos planetas Júpiter  e que a energia de Júpiter favorecia a expansão, a prosperidade, dinheiro e a generosidade.
Ela me disse que ultimamente estava trabalhando muito a sua vida pessoal nos dias de Júpiter.
Sabrina se levantou e me perguntou se eu gostaria de ir um pouco conhecer o apartamento que ela estava alugando, levantei toda empolgada e disse que sim.
Ela ligou para um taxi que rapidamente nos deixou na porta de um edifício pequeno porém elegante, conversamos algumas coisas sem sentido e vazias e percebi que ela evitava me encarar.
Subimos algumas escadas e paramos de frente a uma porta que estava escrito o número 15, ela abriu a porta sorriu e pediu que me sentisse a vontade.
Sentei num sofá branco elegante enquanto ela ia até a geladeira, enquanto ela revirava o freezer eu observava as prateleiras e móveis tentando achar algum porta retrato de família ou alguma coisa daquela mulher experiente e mais velha que tanto me fascinava com seus mistérios.
Mas nada, parecia que ela não estava ali há muito tempo ou de passagem confesso que fiquei confusa.
Sabrina voltou com um cigarro na mão, duas taças e um espumante.
Encheu uma taça e me entregou e em pouco tempo nosso papo estava mais amigável e com alguns risos depois de pausas.
Depois de acabar com o espumante ela olhou fundo nos meus olhos e começou a tocar meu rosto, nessa hora eu não perdi tempo e a beijei.
Fomos parar no quarto e depois de alguma intimidade e ficarmos conversando no escuro do quarto, falei a ela que precisava ir.
Quando ela acendeu a luz eu já estava quase toda vestida, mas ela em pé me olhava nua sorrindo enquanto eu tentava amarrar meu cabelo rebelde.
Quando olhei no relógio e vi que já eram seis da tarde comecei a caprichar numa desculpa boa para minha avó.
Na saída ela segurou meu braço e disse que ainda tinha a sexta e o sábado para me explicar e que gostaria que isso ficasse em sigilo.
Ela me deu o dinheiro do taxi e já fui saindo apressada ligando para um, dentro de mim eu quase nem acreditava que aquilo tudo estava acontecendo comigo.
Cheguei na esquina da minha casa e não pedi o taxista pra me deixar na porta e sai tão desprevenida que não tinha elaborado nenhum plano para disfarçar o cheiro da bebida.
Entrei na sala e minha avó já me esperava preocupada com as mãos na cintura me perguntando o que tinha acontecido, sei que ela começou a falar tanta coisa na minha cabeça que eu só fui indo pro quarto não conseguindo dialogar e tranquei a porta.
E agachei tampando os ouvidos atrás da porta, enquanto ela dizia coisas como que iria me internar ou de que minha pessoa não está normal e que minha família agora é esses marginais.
Enquanto isso uma mensagem me fez esquecer tudo era da Sabrina me perguntando como havia sido a minha chegada e conversamos por mensagens durante algum tempo enquanto ela me explicava pelo celular que não poderia ir ao Green Park na sexta feira mas que me ligaria explicando sobre o dia no nosso mesmo horário.
Contei a ela sobre os incensos e ela parecia se divertir sobre as mensagens e como eu estava me entregando.
Ela me contava de forma sarcástica que ia adorar se eu já estivesse maior de idade e que isso não estava muito certo, mas que me achou bem experiente, e eu me contentei um pouco com essa indireta.
Eu estava com vontade de contar para o mundo inteiro, para o Robert e queria que isso fosse mostrado as claras que ela andasse comigo abraçada, mas, me lembrei do pedido tão preocupado de sigilo nos olhos dela e havia medo e por isso resolvi me calar.
Fiquei pensando durante algum tempo e naquela quinta feira parecia que ela estava cheia de conflitos tudo o que ela me mostrou e vivemos tinha muito haver com a quinta feira a força, propriedade e prosperidade do maior dos planetas e me lembro dela falar que a energia de júpiter favorece a expansão, o dinheiro e até a generosidade. Até que quase me belisquei e pensei sozinha é claro a Sabrina estava vivendo um conflito social pessoal financeiro e depois de tanto pensar consegui montar as peças e perceber por isso ela me dizia que estava vivendo muito as quintas feiras.
O tempo da quinta foi passando e fiquei lendo coisas exotéricas e de bruxaria natural na internet mas as informações eram tantas que bagunçavam minha cabeça, decidi fazer igual a Sabrina e amar a natureza e direcionar minha energia para algo simples e sem tanto apego como ela.
A sexta feira chegou muito rápido fui a escola novamente e diferente do nosso horário habitual a Sabrina me ligou depois da aula como se soubesse a hora que a aula acabava.
Ela estava mais direta e não me deixou puxar muito assunto e já foi logo dizendo de maneira bem clara no telefone que a sexta feira era dedicada a Vênus e tudo o que tem relação com amor funciona legal e que Vênus favorecia a amizade, reconciliação e principalmente a beleza.
Antes de desligar ela me fez um pedido para que eu dialogasse com alguém que eu tivesse vivido um conflito recente, e na mesma hora meu coração se apertou de forma tão forte e veio minha avó Ernestina no pensamento.
Mais uma vez no caminho passei naquela loja exotérica e eu fiquei observando como os donos eram interessantes tinha um senhor que ficava sentado mas atendia também de vez enquanto tinha os olhos bem azuis um cabelo enorme barba e cabelo longos e parecia estar sempre fazendo coisas lindas manuais que me encantavam e outra moça mais jovem que ficava no balcão com alguns colares de madeiras que me deixava com vontade de perguntar o significado.
Eu tenho quase certeza que se a Sabrina estivesse ali e não soubesse ela perguntaria o significado.
Olhei muito as coisas tinha alguns brincos de penas com madeira lindos parecidos com os da Sabrina, quando ia saindo esse senhor me chamou e colocou um brinco único sem par nas minhas mãos e me disse que esse era meu e era presente da loja.
Fui voltando para casa olhando cada detalhe do brinco, era de madeira e bem artesanal a pena um azul bem vivido parecendo que era natural de uma arara.
Não resisti e coloquei ele na orelha do lado que eu tinha um pequeno furo e só guardei meu outro minúsculo brinco.
Cheguei em casa e chamei minha avó para conversar, parecia que ela ficou um pouco assustada com minha iniciativa de puxar conversa, pedi desculpas e nos abraçamos, ainda bem que eu estava no horário certo.
Foi engraçado como o faro dela é aguçado que ela me disse que estava sentindo um cheiro diferente no meu quarto, na mesma hora olhei para baixo do meu guarda roupas e me lembrei dos meus incensos.
A tia Marina chegou até mim e segurou o meu brinco nas mãos e disse como você está ficando diferente não gostava de nada de objetos chamativos e grandes.
Confesso que fiquei rubra nessa hora.
Depois no restinho da minha sexta feira fiquei respondendo as minhas mensagens no celular e uma me incomodou bastante era minha mãe me lembrando que meu aniversário de quinze anos se aproximava e que ela não queria que passasse em branco e ainda fez questão de dizer que é uma data importante para toda mocinha.
Já estava imaginando como sempre os presentes que ela me dava que ficavam mais guardados do que tudo que iam de tiaras de cabelo a vestidos que quase nunca usava com muita insistência.
O sábado chegou na minha cabeça eu imaginava que o sábado seria o mais legal, era quando eu e os garotos do bairro sempre tínhamos mais tempo para planejar aventuras sem compromissos com a escola.
Foi quando Sabrina me ligou e eu já estava com o celular na mão, ela me falou que nesse Sábado ela iria fazer uma festa no apartamento dela e gostaria que eu fosse falou pra chamar Robert e Karine e fiz isso.
Falei claramente para minha avó que iria a festa com alguns amigos sem especificar detalhes e ela só me pediu juízo.
Mandou uma mensagem no celular com o endereço e todos os detalhes que nós precisávamos para achar. Pois já não lembraria mesmo chegar lá sozinha claro que me lembro do número 15 da porta e que ficava perto de condomínios elegantes.
Eu e Robert dividimos o táxi e mostramos pro motorista a anotação que detalhava escrito condomínio Zad que balançou a cabeça e disse saber já onde era.
Não teve muito assunto durante a ida eu na frente com o motorista e Robert e Karine atrás que cochichavam e sorriam de alguma coisa.
Fui na frente e encontrei rapidamente as escadas e o número 15 na porta, bati na porta uma música leve existia ao fundo.
Sabrina abriu a porta nos recebendo com um sorriso ela usava um longo vestido preto que escondiam seus pés descalços.
E foi logo nos entregando cervejas e nos convidando a sentar, a fumaça de incensos perfumava todo o local.
Richarlyson Lafaiet estava lá e parecia alternar entre um copo de bebida e um prato de macarrão enquanto conversava com outros dois jovens que também pareciam ser universitários.
Podia se dizer que existia outras pessoas jovens lá que nunca vi.
Estava legal conversávamos de coisas tão fúteis e Karine e Robert pareciam se sentir tão a vontade com os outros e com a bebida.
De repente Sabrina me chamou para conversar naquele quarto e Robert me olhou meio de canto de olho.
Sentamos na cama enquanto ela fumava aquele cigarro de cheiro doce que me deixava um pouco tonta enquanto ela me explicava sobre o sábado.
Ela disse que o sábado é regido por Saturno e favorece longevidade, exorcismos e os términos por ser o ultimo dia da semana e que tudo pra trabalhar no ambiente domestico nesse dia é legal por isso ela havia me chamado.
Coloquei minha mão sobre a dela e a olhei e contei como tinha gostado daquele dia, ela me abraçou e desviou olhar ficando de pé rapidamente me dizendo que não era só isso.
Olhando nos meus olhos disse que esse era um caminho de amor que só eu mesma posso encontrar mais do que os dias da semana existem as fazes da lua que estão em qualquer calendário comum e influenciam bastante para nos ajudar.
Ela continuava dizendo que achava lindo mesmo a realidade da influencia lunar nas colheitas e até nas pescarias, falou que ultimamente tirava as pontas do cabelo dela na lua nova e depois disso sorriu e me chamou para voltar para a sala.
Depois quando voltamos todo mundo estava mais animado e fiquei um pouco assustada quando vi Lafaiet beijando um rapaz sem ter vergonha de ninguém ali e achei um pouco estranho, mas guardei para mim.
Pra todo mundo isso era normal mas, acho que para mim e Robert era um pouco desconfortável já que nos comunicávamos pelo olhar.
Depois disso tudo voltamos para casa e Karine sorria me agradecendo pelo quanto ela havia se divertido.
No meu quarto eu pensava em tanta coisa, se eu tinha errado em alguma coisa com a Sabrina ou se foi só curtição mesmo e minha expectativa que foi longe demais e depois de tantos pensamentos confusos adormeci.

CAP. 8
MOMENTO E ANGUSTIA REALISTA

O domingo chegou e acordei já um pouco desanimada, pois era o dia do meu aniversário e nessa época da minha vida não estava bem a vontade com encontros familiares, mas como em alguns anos já esperava a visita da minha mãe.
Quando abri minhas mensagens de e-mail no celular existia uma mensagem da Sabrina me dando os parabéns e desejando toda sorte e falando sobre o domingo.
Ela dizia na mensagem que o domingo pertencia ao sol e novamente ao fogo e que é adequado para rituais de cura, força pessoal e entrar em contato com a minha espiritualidade pessoal.
Mais no final ela dizia que desejava que o sol iluminasse o meu caminho de vitórias e se despedia dizendo que ia fazer uma viagem.
Mandei uma resposta um pouco desmotivada esperando uma resposta que não aconteceu, fui à cozinha e minha avó já me abraçou me servindo um café e conversando comigo.
Mais tarde, minha mãe Maristela e sua família vieram me visitar, como sempre sorri disfarçando ao abrir a enorme caixa rosa cheia de flores decorando por fora que ela disse que Jalles e Leticia a ajudaram a escolher.
Estava com um pouco de medo de abrir aquilo, mas não podia fazer essa desfeita, dentro existia um vestido rosa bem social e comportado, tia Mariana pegou ele da minha mão e se encantou falando que gostaria que eu usasse naquele dia.
Disfarcei, dizendo que não estava no clima, mas a verdade é que como sempre odiei a escolha, como eu gostaria que fosse a camisa do meu time de futebol ou uma calça moderna folgada dessas que o Robert e os amigos dele estão usando, mas camuflei bem meu descontentamento.
Durante muito tempo esses presentes femininos ficaram muito guardados no meu guarda roupa a não ser em dias como a formatura de um curso que minha irmã Leticia concluiu e minha mãe quase faltou me obrigar a vestir e pra agradar eu usei.
Depois desse terrível domingo a segunda feira chegou, acordei de manhã e como todos os dias comecei a me arrumar para ir a escola, mas dentro de mim existia quase um plano secreto de não ir.
Uma vontade de me entregar ao nada e ao acaso sem prazo e nem horas, olhar para o lago do Green Park.
Peguei meus incensos e coloquei dentro da mochila, peguei uma caixa de fósforos na cozinha.
Antes de sair coloquei o brinco de penas que aquele artesão místico me deu.
No caminho com passos leves e em silêncio eu pensava em como estava mudando, como eu queria ficar cada vez mais sozinha.
Sentei na grama do parque e olhei o horizonte medido do lago, tirei meu simples tênis all star  sujo e fiquei descalça, acendi dois incensos firmados no chão mesmo, não tinha ninguém no park e confesso que ficava meio constrangida de alguém me ver do lado dos incensos era novo esse momento para mim.
Fiquei um tempo olhando pro nada, olhei no celular e estava cedo daria pra passar ainda um bom horário de aula ali.
Resolvi acessar minhas redes sociais e minha mãe Maristela não parava de postar fotos na sua rede social.
Tinha de tudo ela sorrindo exibindo vários vestidos, outra abraçada com Jalles e Leticia.
Desliguei o aparelho, coloquei dentro da mochila e comecei olhar para o nada e pensar nela e na nossa relação.
Existia um pouco de mágoa, ressentimento que eu preferia nunca destacar com minha mãe Maristela.
Todos aqueles sorrisos naquele perfil chamado Marista Star não me comoviam, era como se eu não fizesse parte daquilo.
Parecia um egoísmo de colocar sempre a relação dela do momento em primeiro lugar e eu era sempre o entulho atrás da porta que ela sempre precisava saber aonde deixar urgentemente para seguir uma viagem feliz com sua família perfeita.
Sempre desde a infância me sentia não sei por que como um acaso, um tanto faz, um vou ver o que faço.
Aquela de nunca existir respostas e não ter direitos a questionamentos.
Uma verdadeira filha do vento ou do espírito santo.
Eu achava engraçado e nesse momento eu pensava nisso ver o Robert quase ir às porradas com o Marcos só por que colocou a mãe dele na discussão, eu não conseguia ter isso, sabe não me importava também era como se eu fosse já totalmente desprendida desse apego.
Incomodava-me um pouco o positivismo exagerado da minha mãe em tudo, na formatura da Leticia ela chegou a tirar a foto segurando o diploma da própria filha.
Tentei mudar o foco do pensamento aquilo já estava por vários anos me machucando por dentro, quando vi um garoto andando muito rápido e jogando uma caixa de papelão fechada na esquina do park e logo após sair correndo.
De longe fiquei olhando a caixa e pensando, alguns moradores jogam lixo ali mesmo.
Meus incensos estavam quase acabando quando comecei a ouvir um miado, era desesperado.
Tentei ignorar, mas não parava mais, os miados, peguei minha mochila e fui andando.
Os miados me levavam em direção à caixa.
A maldade era tamanha que a caixa estava fechada com fita de selar papel, abri a caixa e dentro olhou para mim um gatinho preto minúsculo com grandes olhos verdes todo remelento.
Olhou pra mim como se pedisse socorro, peguei-o no colo e parou de miar.
No caminho para casa tentei tirar um pouco das remelas dos olhos o que parecia impossível, era fêmea e como a achei na segunda feira coloquei o nome de Lua.
Cheguei em casa e minha avó já me viu com Lua no colo antes que ela abrisse a boca já fui contando toda a história e lembro dela me dizer:
-Não quero esse bicho deitado nem na cama nem no sofá, se eu ver vou tratar de dar um sumiço nele.
Depois o tempo foi passando e ela foi se acostumando um pouco com Lua. Fui limpando as remelas que se foram, dava leite na colherzinha na boca dela num pratinho vermelho e com o tempo ela foi ficando forte e ai minha avó dizia:
-Tinha que ser preto esse gato seu, meu pai dizia que esses bichos são amaldiçoados.
Eu tentava desmistificar esses preconceitos do gato preto que a Lua enfrentava e ela se tornou uma boa companhia nesses dias.
O Robert ficava cada vez mais distante parecia que estava casado com Karine já, e Sabrina nunca mais respondeu minhas mensagens.
 A noite eu estava no meu computador e Lua estava deitada do lado da tela na mesa como se também lesse o site de magia natural que eu estava lendo.
Nesse site contava a história da relação das bruxas com seus animais de estimação entre eles um que se destacava na leitura que eu fazia era o gato preto, olhei novamente para a Lua que agora parecia dormir.
Fiquei chocada de ler que alguns gatos pretos eram queimados com suas donas, as bruxas, por não serem aceitos naquela sociedade religiosa.
Depois ao ler mais embaixo parece que minha relação com Lua ficou mais forte que as bruxas de antigamente acreditavam que os gatos poderiam ser seus espíritos familiares encarnados, já que amava Lua como se fosse da família mesmo.
Nessa época estava naquela parte de ultima semana de aula, os alunos estavam ansiosos para terminar todas as avaliações e se reunirem com suas famílias no natal e festas de finais de ano.
Diferente da minha pessoa, cada ano que se passava parecia que aumentava mais minha fuga a esses encontros familiares, enquanto a Lua passava na minha perna e voltava se esfregando de lá pra cá eu pensava.
Sentia vontade de pegar minha gata negra Lua e sumir no mundo, nesse dia estava uma noite linda e eu sentava na porta de casa olhando as estrelas e a Lua ficava lá tentando me fazer companhia.
Peguei a Lua e coloquei no colo, mas quem disse que ela se comportava, de vez em quando corria para dentro com medo dos ruídos dos carros que passavam de vez em quando e depois voltava.
Comecei a pensar na Sabrina, poderia ser que tenha dado um sumiço para se dedicar a sua família mesmo, nessa época quase todo mundo faz isso.
Eu não estava nem um pouco afim de me reunir com a minha, no ultimo dia de aula fui fazendo um esforço muito grande para chegar as escadas que davam de encontro a entrada do colégio.
Recebi as notas no boletim sem entusiasmo ia para o segundo ano do ensino médio.
Sentei um pouco em uma quadra de esportes lá e fiquei em pensando em coisas tão vagas como tudo estava sem sentido.
Eu estava em um estado mental tão desorganizado, nada fazia sentido o que salvava era voltar pra casa depois das aulas e encontrar Lua ansiosa por algum petisco ou ração.
De repente vi a Cristiane chegando com sua inseparável bolsa e seus livros nos braços. Ela parou e me disse:
-E ai esquizofrênica passou de ano mais uma vez INT
Eu sorri para não gerar mais apatia do que a existente entre nós e disse que sim.
Mas ela me chamar de esquizofrênica me deixou pensativa ainda mais, não sabia o significado e não via a hora de chegar em casa e pesquisar.
Cristiane sempre era a mais aplicada da sala, sempre estava lendo livros diferentes fora do tema das matérias da escola, ela era muito curiosa.
Suas notas eram de dar inveja a qualquer pessoa, andava com uma bolsa marrom inseparável e usava uns óculos bem redondos, roupas comportadas e tranças com gel no cabelo.
Lembro-me que esses dias passaram tão sem pressa, parecia uma eternidade até chegar o natal e o fim do ano.
Eu olhava todos os dias minhas mensagens no celular e checava minha caixa de e-mail e não acontecia nenhuma resposta da Sabrina, já estava determinada a tentar procurar ela depois do ano novo e me lembrei de ter guardado o endereço anotado em um papel em uma das minhas gavetas.
De ultima hora fui à oficina ver se encontrava o Robert e o tio dele me falou que ele havia se mudado pra outra cidade com a namorada dele, enviei mensagem e depois de três dias o louco me respondeu meio com pressa e me enviou um abraço por escrito.
Nessa época minha amizade com ele estava muito distante e foi acontecendo tão natural que nem aquelas confidências aconteciam mais, mas, de vez em quando a minha pessoa tentava aparecer para tentar fazer amizade que não tinha mais graça pela Karine estar sempre por perto.
Depois de alguns dias estava no meu quarto de frente para o calendário e fazia as contas sabia que faltava uma semana pra noite do bom velhinho.
O que não faltava em mim nessas férias eram pensamentos desorganizados e falta do que fazer.
Comecei a sentir muita vontade de conseguir um emprego já tinha falado com o tio do Robert, mas ele já tinha me dado uma ideia disfarçada de que não pegaria bem para ele colocar uma moça lá para carregar peso.
Eu odiava não só esse, mas todo tipo de rótulo, eu queria ser como um rapaz me sujar de graxa, deixar minha barba crescer, ter aquele ar despojado deles de andar sem camisa.
Comecei a pensar em todos os rótulos que a sociedade me dava e fui me fechando.
Coloquei um bauru preparado pela minha avó na mochila e fui dar uma volta, fui a uma praça diferente, fui andando sem destino.
Sentei lá e comecei a pensar novamente nos rótulos, me lembrei da Cristiane me chamando de esquizofrênica.
Admitia para mim mesma que não era que eu poderia ser mais do que uma mulher rotulada, mais do que uma sapatão, mais do que uma mutante da vida real.
Eu conhecia um pediatra que idolatrava crianças e a minha personalidade não batia com a dele porque não conseguia apesar da fragilidade e necessidade de amparo menosprezar os já caminhados, na minha como escrevia nos meus diários da oitava série somos eternas crianças nos preparando para cumprir nosso aceitável declínio.
Comi o bauru e aquele gosto do presunto ao queijo com o pão me levava a infância, olhando pro nada comecei a lembrar de como falava sozinha no quintal brincando sozinha com uma imaginação tão fértil.
Das professoras falando pra minha mãe que eu conversava sozinha, do eletro de cabeça que eu fiz.
Quando criança gostava de sentar encostada nas janelas do ônibus torcendo pra viagem nunca acabar enquanto cantava músicas infantis me esquecendo dos outros passageiros.
Um amigo do passado me fazia rir ao me falar que se lembrava de mim cantando no ônibus.
Os dias intermináveis novamente iam se passando e olhei no calendário e faltava três dias para o Natal, Lua pendurava nas cortinas do meu quarto e corria pela casa inteira.
Ela estava começando a aprender a usar a caixa de areia e consegui condicionar minha voz com o alimento e ela entendia como chamada.
Eu falava um Luuuuaaaaa e ela vinha correndo miando e respondendo como se perguntasse se tinha algum alimento novo para ela.
Dava nem pra acreditar que minha gata tão gordinha e bonitinha era aquela coisa desnutrida e jogada no lixo, depois de ser quase uma mãe de Lua desenvolvi um amor muito forte pelos gatos.
Durante as madrugadas eu sempre pesquisava sites esotéricos ou de astronomia enquanto Lua adorava tirar sonecas do lado do meu computador acho que é porque ficava aquecido.
O site da noite era sobre esquizofrenia, jurava pra mim mesmo que não era essa coisa horrível que Cristiane vivia me chamando.
No site falava tanta coisa, achei horrível e percebi que a Cristiane não gostava de mim mesmo, me achava uma sonsa monga é verdade.
Tudo bem que quase não tinha amigas e me isolava demais.
De repente sem mais nem menos me veio uma lembrança da escola que foi constrangedora de quando defequei na roupa sentada na sala de aula de tanto segurar na infância, parecia anormal porque dos 5 pra frente conseguia lembrar com clareza de quase tudo.
Nem terminei de ler tudo, não aceitei, me senti ridícula e mais uma vez rotulada.
Como não havia aulas, não tinha amigos e não estava saindo, minha rotina era acordar descabelada ajudar um pouco minha avó em casa e dar comida para a Lua e dormir descabelada novamente.
Os passatempos eram só navegar na internet, mas estava tão sem graça eu parecia ser uma parede que estava ali, mas ninguém nem encostava.
Eu enviava mensagens para algumas pessoas nas redes sociais que quase nunca eram respondidas.
Conversava só básico na mesa do almoço com tia Mariana e minha avó isso sem falar nos dias em que estava indisposta e deixava o comer para as últimas horas.
O quarto e as férias eram uma tortura, uma prisão sem fim.








                                                                                           


CAP.9
NATAL GÓTICO

Finalmente o dia do Natal chegou de manhã minha avó havia me convidado para passar com ela e tia Mariana na igreja enquanto ajudava ela nas louças não respondi nem que sim e nem que não, mas estava indisposta em repetir a rotina de todas às vezes com aqueles hinos evangélicos que ficam repetindo a melodia inteira e parecem que não vão acabar mais.
Depois das tarefas domésticas voltei para o quarto e me deparei com um presente que a Lua tinha deixado lá tentando me agradar um corpo de pássaro sem cabeça um pouco despenado.
Quase morri de rir e limpei sem minha avó ficar sabendo, já tinha lido no blog felino que os gatos podem trazer caças para tentar agradar os donos.
Mais tarde deitada na cama minha mãe me ligou, talvez pra desejar as condolências da distância que estava, mas resolvi não atender.
O perfil dela na rede social o Marista Star não parava de atualizar status com fotos da viagem que ela estava fazendo com Jalles e Leticia em Gramado, uma cidade que ela não parava de elogiar no seu perfil.
Era três da tarde e eu ficava pensando em uma situação um escape não aguentava mais aquela rotina.
Meu espírito rebelde adolescente parecia clamar por experiências fora daquela repetição da igreja submissa e chata da minha família.
Resolvi naquele dia inventar que uma amiga havia me chamado para passar o natal na casa dela, mas a verdade é que eu queria sair sem destino por aí.
Lembro-me da minha avó Ernestina dizendo:
-Olha tudo bem Maria Eugênia vou confiar em você, mas lembre-se de não beber bebidas alcoólicas e de levar o celular para me avisar qualquer imprevisto, caso você chegue antes de mim da igreja vou deixar a chave reserva atrás da samambaia na copa perto da porta.
Respondi que sim, comecei a me arrumar para um acaso, prendi meus cabelos bem firmes fazendo um coque.
Depois penteei alguns fios rebeldes que sobravam na frente e passei um gel fixador.
Vesti uma camiseta vermelha e comecei a arrumar minha mochila, coloquei documentos pessoais e um pouco de dinheiro que eu tinha.
Sem falar nem um feliz natal ou despedida comecei minha caminhada aventureira, o tempo parecia estar estranho nem quente nem frio, mas mudava constantemente.
Oras ficava nublado e outro momento rapidamente o sol aparecia espantando o vento frio que corria quando ele se escondia.
No caminho via algumas casas tocando melodias de natal e cheiro de carne assando em alguns pontos, algumas crianças corriam pela rua como se estivessem empolgadas com algum mistério.
Mais a frente alguns carros passavam com um som extremamente alto e os passageiros pareciam estar alegres e comemorar algo.
As mercearias do bairro pareciam estar com um movimento maior via muitas pessoas com sacolas saindo.
Sai do meu bairro e comecei a andar uma avenida que dava para o bairro vizinho, estava tanto tempo fechada no quarto que aquilo parecia me fazer bem, parecia novos ares e novas possibilidades.
Ao andar pelas ruas via nas casas a placa com o nome do bairro escrito Vila Feliz, sorria dentro de mim dizendo para mim mesmo tomara que esteja em um lugar feliz mesmo.
Não tinha muito tempo que aquele bairro tinha sido inaugurado eram casas financiadas pelo governo e quase todas eram iguais com exceção a alguns bares que existiam nas avenidas.
Comecei a descer uma rua que ligava a outra avenida principal extremamente silenciosa e nesse momento parece que o tempo fechou-se bastante o vento tocou frio e mais forte dessa vez, existia um sino de natal que começou a bater numa dessas casas silenciosas pelo vento como um fantasma e só foi parar quando comecei a virar a rua e bem no final escutava bem fraquinho o ding e dong fantasmagórico dele.
Algumas portas tinham sempre algum enfeite de natal e outras com pisca-pisca desligados que deveriam ficar lindos no anoitecer.
No início da outra rua existia um bar na entrada tinha alguns jovens bebendo e o dono de lá de forma maliciosa parecia não se importar muito com a idade dos consumidores, eu estava com muita sede e pedi um copo com água.
Nos meus 15 anos eu era uma moça muito encorpada e tinha muitas pessoas que juravam que eu já tinha alguns vinte e poucos anos.
De repente no balcão um dos atendentes colocou uma cerveja esfumada de frio e gelo e dizendo que o senhor da mesa da esquerda havia me enviado.
Eu sorri para ele e comecei a beber sozinha no balcão.
Não sei por que, mas receber alguma coisa inesperada de um homem desconhecido naquele momento me fazia muito bem.
Ele era um senhor elegante e bem vivido, tinha um relógio prata no braço.
Quando cheguei quase na metade da cerveja ele me chamou para sentar lá com ele e começamos a conversar.
Outra cerveja começou e me contava que seu nome era José Romário e que era proprietário  de uma serralheria.
O papo continuava ele enchia meu copo depois do atendente trazer a terceira cerveja e eu comecei a contar toda a minha vida para ele.
Naquele momento me sentia segura, importante, parecia que eu conhecia ele há muito tempo e me sentia especial bem cuidada e provida.
Ele me olhava com olhar de sabedoria e na minha cabeça por um momento me passou a possibilidade dele ser meu pai loucamente.
Não tinha lógica, dizia para mim mesmo no meu interior enquanto dava goles generosos da quarta cerveja.
Ele bebia uma bebida destilada diferente e resolvi experimentar também, ele só me disse vá devagar.
Parecia naquele momento que todo afeto acumulado por meu pai se direcionava a ele loucamente em libido.
Talvez o efeito do álcool com algumas coisas sensíveis acumuladas de muito tempo tivessem causando essa reação.
Nosso papo ficava agradável e com o tempo me senti muito a vontade para entrar no carro dele e ir para um apartamento dele.
José Romário antes de acelerar e dar partida no carro acendeu um cigarro de palha e me passou e com confiança eu peguei.
A primeira tragada eu tossi enquanto ele sorria dirigindo, o carro dele era negro e no centro tinha um cervo ou rena de natal, aqueles veados norte americanos que aparecem muito no natal puxando o treno do papai Noel.
Ao chegar lá, um apartamento muito bem mobiliado e organizado.
Senti-me importante naquele lugar e estava convicta de que ele era um solteirão bem estabilizado.
Ele voltou com uma bebida na mão e me entregou uma cerveja, conversamos mais um pouco e depois apaguei.
Acordei no outro dia me vestindo e ele estava preparando um café e disse que iria me levar em casa.
Eu estava tão sem graça e desajeitada que não conseguia olhar na cara dele, e disse a ele que não precisava.
Não tomei café e ele me olhou da porta até as escadas e me ofereceu o dinheiro do taxi que acabei aceitando, e fui andando rápido sem olhar pra trás como se tentasse esquecer e olha que já eram dez da manhã e eu já estava pensando em uma boa desculpa para inventar para a minha avó que deveria estar muito preocupada.
Durante o caminho dentro do taxi vim examinando minha vida até aqui pensando em muitas coisas, com uma consciência super pesada e falando para mim mesma em pensamento que precisava de um emprego e virar gente.
Como todos os jovens nessa fase minhas ambições aumentavam muito e a escola e a família apesar do conforto já não era o bastante.
Cheguei em casa e minha avó Ernestina diferente de todas as outras vezes não deu muita importância ou implicância para minha falta de respostas só disse enquanto lavava uma louça enorme que parecia ser do jantar passado:
- Maria Eugênia você está ficando adulta, eu só te peço que você tenha mais responsabilidade e cuidado com sua vida e hábitos o mundo hoje está muito perigoso, todo mundo sentiu sua falta na igreja ontem, por favor, a próxima vez que for dormir em algum lugar me avise.
Respirei fundo e falei que sim e que tinha dormido na casa de uma amiga que fez uma festa no natal e que meu celular havia descarregado.
Como minha avó não usava e achava esses aparelhos frescuras eu sempre ligava nem que fosse a cobrar para a tia Mariana tentando avisar ou adicionar uma desculpa.
Tudo que eu queria era muita água, um banho e ver como minha gata Lua estava.
Ao entrar no quarto a Lua estava deitada sobre as almofadas da minha cama e abracei-a.
Depois de bastante água e um olhar desconfiado da minha avó fui tomar meu desejado banho.
Enquanto a água caia do chuveiro ia me acalmando e tocando meu corpo e parecia que eu estava toda mexida, um pouco dolorida no meu órgão genital e outro torcicolo aqui e ali.
Confesso que surgia ai outra preocupação.
Os dias foram passando e demorou alguns dias para que meu corpo se livrasse das lembranças do natal e rapidamente o ano novo chegou.
Minha avó fez um jantar e algumas pessoas da família vieram.
Algumas horas antes daquele grande número de fogos sentei na porta da casa e fiquei olhando para a lua e o céu.
Nesse período as pessoas fazem promessas para um ano melhor ou avaliam a sua vida e eu pensava em como a minha caminhava pouco e que ainda não sei porque não era uma mulher completa.
Talvez fosse a falta do meu sonhado emprego mesmo.




CAP.10
BUSCA DE CHAVE E VERDADE

O ano começou com aquela motivação de que tudo ia ser diferente, imprimi muitos currículos e arrumei documentos e carteira de trabalho.
Comecei a deixar nas lojas que eu passava, outras vezes ia a empresas.
Chegava em casa e segurava meu celular na mão com a esperança de que ele tocasse com algum lugar, qualquer local me chamando.
Uma loja me chamou e fiz uma entrevista sem sucesso e depois mais nada de alguém me ligar.
Enquanto ficava na esperança os dias parados em que nem a escola havia começado era uma tortura.
Acho que até a Lua estava enjoada do meu movimento acorda, come, vai pra tv e depois dorme de novo.
Minha avó tinha comprado vacina pra que a Lua não pegasse também filhotes indesejados.
Comecei a pensar na Sabrina e me deu uma saudade, nunca mais nenhuma mensagem, nem respostas.
De vez em quando ia ao e-mail dela e colocava uns pontos em reticencia tentando chamar a atenção que nunca vinha.
Decidi fazer uma visita surpresa naquele lugar que ela morava.
De imediato me lembrei do papel com a anotação do endereço e comecei a revirar a minha gaveta e estava lá o endereço, rua e bairro com o final condomínio Zad número 15.
Peguei o papel e disse para mim mesma que ia atrás.
Outras coisas estavam acontecendo também e minha menstruação havia atrasado um pouco e por mais que eu fizesse de tudo para esquecer aquela noite de álcool com José Romário só eu mesmo sabia que estava correndo um risco de uma gravidez indesejada.
Nesse momento isso me incomodava muito por vários motivos, eu não queria ser mãe, não estava preparada, eu queria ser quase um garoto e isso ia estragar tudo sem falar na vergonha que já estava sentindo em contar para minha família esse desastre.
Eu fiquei pensando que poderia ser quase uma maldição mais uma vez se repetindo, se de alguma forma eu apagasse José Romário da memória como questão de defesa e talvez tenha sido isso que aconteceu com minha mãe sobre o meu sonhado pai misterioso.
E dentro de mim as coisas circulavam com esses pensamentos me provocando insônias.
Jamais eu ia querer que minha filha vivesse essa mesma busca sem respostas que eu vivo. Não, esse pesadelo não pode ser verdade.
Tentei por uns dias desfocar desse problema e ir à busca de trabalho para ocupar a mente e de Sabrina também.
Nesses dias vazios eu ficava relembrando de Sabrina de como se entregava nua a mim sem medo como se já nos conhecêssemos há muito tempo.
Peguei o papel com anotação e fui até o endereço.
Chegando lá subi a escada nervosa e encontrei o número 15 e depois de três apertões esperados na campainha o Lafaiet abriu a porta com cara de sono uma blusa folgada e cueca desajeitada.
Eu disse oi, ele me respondeu com um tanto tempo e me convidou a entrar.
Mesmo um pouco constrangida entrei e percebi que o local estava diferente no sofá ao lado dormia outro jovem sem camisa com uma garrafa vazia ao chão.
Fui direta e disse logo que estava procurando Sabrina e que não sabia por que ela nunca mais respondeu nenhuma mensagem minha.
Richarlyson Lafaiet ficou algum segundo em silencio e deu um sorrisinho sarcástico e disse:
- Olha Maria, a Sabrina não mora mais aqui já faz algumas semanas que deixamos de dividir as despesas. Ela resolveu voltar para a cidade dela para ficar mais próxima da família dela. Eu não sei se você sabia, mas apesar do espírito aventureiro dela ela tem dois filhos pequenos e um esposo e os negócios que ela havia tentado aqui na cidade não estavam dando muito certo.
Depois de ouvir aquilo daquele universitário homossexual de psicologia parecia que meu mundo havia desabado, mas tentei manter a tranquilidade.
Estava explicado o olhar triste, distante e pensativo daquela bruxa do amor.
Eu comecei a falar algumas coisas para Lafaiet como se me desabafasse ele colocou a mão na minha boca de forma delicada e disse novamente:
-Eu entendo Maria, mas foi só um momento a Sabrina é muito cheia de ar e não lembra muitas vezes aonde deixa nem os objetos pessoais dela, aprendi muito com ela, mas pensamos muito diferente.
Sou ateu, gosto da ciência e de pesquisas.
Às vezes eu e ela bêbados com nossos problemas discutíamos assuntos tão bestas como Deus e fé do social.
Sinto falta daquela louca, Maria olha só, vou estar sempre aqui você tem minhas redes sociais e meu contato e te faria muito bem fazer uma terapia com um profissional que esteja realmente preparado para te atender na Psicologia, estou fazendo e você não sabe como faz bem.
Como o Lafaiet falava bem, ele me contou depois de como a terapia estava fazendo bem a ele e disse que ia me chamar para uma festa Glbt.
Aproveitando que estava próxima de um estudante de psicologia perguntei a ele se me achava esquizofrênica e ele me disse novamente que é muito perigoso e complicado rotular as pessoas assim e que mais uma vez me recomendava uma terapia com um profissional já preparado.
Despedi-me dele e fui embora bem desmotivada, parecia que eu tinha levado um banho de água gelada.
Chegando em casa fui investigar as redes sociais do Lafaiet e fiquei impressionada em como ele defendia uma posição completamente contrária a de Sabrina, as postagens dele eram realistas porém sem certo tipo de fé, incrédulas por certas vezes.
Em algumas postagens ele escrevia textos tão sinceros que quando eu chegava no fim somando com a dor que estava sentindo quase deixava de acreditar em Deus e na magia também.
Tinha páginas de sites ateus e de política e outros de ciência, enfim realmente apesar de ser estranho ele tinha algo a defender.
Mais tarde coloquei comida para a Lua e brinquei um pouco com ela.
Sentei lá fora e fiquei olhando para o entardecer.
Meu cabelo estava enorme e tinha vontade de cortar curtinho como os homens para deixar a vida mais prática, mas ainda não existia a coragem.
No fim de semana estava angustiada, minhas regras chegavam sempre por aqueles dias e nada, quase desesperada, resolvi ocupar minha cabeça e mais tarde ir naquele bairro Vila Feliz das casas iguais. 
E ir naquele bar novamente, precisava contar tudo para José Romário e pedir ajuda. Eu não poderia desgraçar meu resto de vida por um ato irresponsável.
Li um pouco de umas matérias jornalísticas quando a Lua derrubou um pote meu que ficava cheio de canetas em cima do computador, briguei com ela e a gata desceu correndo e pendurando na cortina, enquanto tentava colocar as canetas e objetos no lugar vi que sem querer ou misticismo da Lua fui parar numa página esotérica.
Chamei Lua de bruxinha e comecei a ler estava escrito “BLOG MAGIA E CULTURA” a primeira postagem estava falando de energias de início de ano e falava sobre Janeiro e os antepassados familiares.
Arrepiei-me todinha e continuei, mais tarde chegando no bar o Hélio dono do bar me recebeu com um sorriso malicioso e colocou uma cerveja no balcão sem que eu pedisse.
Disse que era por conta do José Romário, e que ele estava prestes a chegar e que sempre ia lá as quintas e aos sábados.
Experiente depois dos ensinamentos da semana pensei comigo enquanto bebia a cerveja:
“Hum, quinta dia de negócios e empresários, e sábado bom para términos e energia negra, perfeito.” Pensei.
José Romário chegou com seu carro preto brilhando e desceu com uma blusa escura, cor vinho parece e óculos escuros e tinha um pacote de ervas na mão.
Hélio entregou outra cerveja a ele e comecei a partilhar e contar tudo o que eu estava sentindo, ele me disse que já sábia, e que sabia também que eu voltaria a procurar ele.
José Romário me contou que era espírita e que aquela erva que ele estava me passando fariam as minhas regras voltarem ao normal.
Peguei aliviada olhando anotações dele que explicavam até como fazer a infusão e no final tinha até o telefone dele.
Isso me deixou mais tranquila e parecia que começava ali uma grande e duradoura amizade.
José Romário me falou de um centro espírita que atendia somente nas quartas ou sextas e que do lado é o lugar onde se vende essas ervas e outros objetos e que me recomendava que eu buscasse informações sobre o meu pai lá.
Já que uma vez a tia Mariana havia me falado que a única coisa que minha mãe havia falado a ela em segredo era que ele era estranho e espírita.
Tudo aquilo me empolgou tanto que tomei umas cinco cervejas com longos papos com ele e Barbara uma menina que tinha acabado de completar dezoito anos se aproximou da gente na terceira cerveja e ficou lá.
Contou-me que já saiu com José Romário também algumas vezes e que curtia várias vertentes de Metal, um tipo de som que eu ainda não conhecia.
Parecia que eu e Barbara éramos íntimas eu não sei se foi efeito das cervejas pois nosso papo se encaixava perfeitamente. Ela falava que parecia que já me conhecia de algum lugar.
Barbara usava um short jeans meio rasgado blusa preta de alguma banda e cabelos cacheados e descoloridos nas pontas.
Trocamos telefone também, fui pra casa enquanto Barbara sentou no colo de José Romário bebendo e sorrindo.
No caminho fui pensando em uma hora pra despistar todo mundo e preparar aquele material na infusão para beber.








Cap.11
CONTATO PATERNO NO ESPÍRITISMO

Voltei para casa num belo entardecer e minha avó e tia Mariana estavam preparando o jantar todas empolgadas me avisando que a tia Maria Aparecida iria lá.
Minha vó estava toda empolgada remexendo uns bolinhos de carne na panela e me pediu para me arrumar para recebê-la.
Fazia muito tempo que eu não via a tia Aparecida e antes de esconder meu pacote de ervas embaixo do guarda roupa li um pouco por cima o preparo que José Romário havia escrito.
Arrumei-me e me vesti de forma bem simples não estava muito empolgada com a visita.
Recebi minha tia e ela me abraçou de forma toda entusiasmada, minha avó Ernestina e tia Mariana não conseguiam esconder o quanto estavam felizes com a visita da própria.
Comemos na mesa e tia Aparecida não parava de falar do passado segundo a minha avó esse era um dos defeitos dela, ela tinha uma memória muito recordativa e tinha vivido uma história muito triste.
O marido dela batia nela, e seu único filho, o Celso já estava casado e bem sucedido enquanto ela falava eu olhava a foto dele nos álbuns de fotos revelados que ela havia trazido.
Minha avó olhava toda empolgada cada álbum de foto e se emocionou quando viu a foto da tia Maria Aparecida pequena.
Ela começou a contar a história da minha tia, os olhos da minha avó estavam marejados e ela falava que ela quando pequena estava desenganada pelos médicos e ela fez uma promessa a nossa senhora Aparecida que se curasse a filha dela colocaria o nome da santa como homenagem.
Dito e feito pela fé da minha avó minha tia foi curada e a promessa foi cumprida.
Depois de alguns anos minha avó se tornou evangélica, mas sempre respeitou muito os católicos já que era uma.
Olhei com atenção uma foto antiga que tinha minha avó e seus quatro filhos e aproveitando que tia Aparecida gostava de viver no passado comecei a intimar ela:
-Tia a senhora nunca ouviu falar nada do meu pai “Int”.
Olhando-me com espanto ela disse:
-Não, uma vez sua mãe me falou que ele era espírita e que tinha medo dele e me lembro de uma vez na praça que estava com sua mãe e nós duas corremos quando voltávamos da igreja. Sua mãe grávida falou a ele de você e ele sumiu e depois de muito tempo ele apareceu aqui falando que lá no centro falavam pra ele, às entidades que ele tinha uma filha, mas, sua mãe fez questão de nunca deixar ele se aproximar de você.
Fiquei bem curiosa e comecei a indagar o porquê correram e tudo mais, mas elas trocaram de assunto e percebi uma pisada no pé da tia Aparecida que minha avó deu com força.
Depois de muito papo ela foi embora e deitei na minha cama pensando em tanta coisa, acho que a comida, mas aquelas fotos pesadas me deixaram com muito sono.
Ao dormir no meu sono tive um sonho muito lindo.
Dentro do sonho parecia ser uma paz tão grande que eu não queria despertar dele e parecia ser tão real. Dentro do sonho eu me questionava se de tão perfeito aquilo era realidade.
Eu caminhava num lugar belo, parecia um entardecer sem fim, flores bonitas pelos cantos da borda de uma estrada empoeirada que estava a minha frente.
Andando mais um pouco vi uma mulher vestida toda de roxo e de costas, meu coração já começou a disparar e comecei a apressar ainda mais os meus passos, ela estava com um chapéu roxo e seu longo cabelo ruivo balançava com o vento pelas costas.
Ao chegar perto, Sabrina se virou pra mim mais linda do que todas as vezes que a vi. Seu rosto era angelical. Ela disse:
-Nia meu amor, que saudades, quando for preparar as ervas deixa a água esfriar um pouco, tenha respeito pela matéria prima da natureza.
Depois desapareceu e acordei com o meu coração emocionado e angustiado.
Fui sem lavar o olho direto pro blog esotérico procurar respostas.
Lá li muitas coisas que não sabia sobre a infusão e como preparar.
O site falava pra não deixar a água ferver e esperar de 15 a 20 minutos tampado e coar.
Sim, eu uma garota masculina que raramente tinha coado um suco estava aprendendo naturalmente a amar a natureza e respeitar.
Lá no blog falavam das propriedades de cada planta e tinha até um banho de hortelã uma planta que eu nem dava muita atenção e tinha no meu quintal.
Enfim uma infinidade de opções, quando estivesse sozinha em casa poderia me arriscar a tentar fazer um daqueles que estavam no blog místico.
Mas, no momento estava querendo um momento a só para preparar a garrafada que salvaria a minha vida de uma tragédia.
Eu e Barbara estávamos ficando muito amigas e sempre nos encontrávamos naquele bar e quando eu queria encontrar José Romário sabia também os dias que com certeza ele apareceria por lá.
Estava em um aplicativo de mensagens e Barbara me falava de um show de metal que haveria na cidade no próximo final de semana.
Falei pra ela que nunca fui a um lugar desses e ela me motivou a criar coragem e falou que me apresentaria pra galera dela, me senti empolgada já que estava muito carente de amizades ultimamente.
Ela só me pediu uma coisa, que eu fosse vestida de preto.
Que bom já tinha um lugar para ir ao final de semana sem falar que na quarta feira iria lá naquele centro espírita tentar entrar em contato com o meu pai.
Os dias foram passando e era uma sexta feira e minha avó e tia Mariana se arrumavam para ir ao ensaio das irmãs de igreja e eu pensava que essa seria uma ótima oportunidade para preparar a bebida da minha salvação.
Elas saíram e retirei o pacote debaixo do guarda roupa e segui o passo a passo os escritos do espírita José Romário. Coloquei a quantidade de água e deixei esfriar.
Lá falava que a bebida tinha que ser bebida toda de uma vez para o efeito eficaz da erva mística São Martin.
O cheiro estava forte e horrível só de sentir me embrulhava o estômago e bebi repugnando todo o preparado ainda um pouco quente e depois fui lavar a louça com muito detergente e sabão de bola que minha avó tem o faro poderoso.
A embalagem fiz questão de já colocar em outra sacola e deixar no lixo lá de fora.
Sentei no quintal aliviada esperando que minha avó chegasse a qualquer momento e dentro de mim um eu consegui aliviada badalava.
Sentei lá e comecei a olhar as plantas da minha avó que eu nunca dava atenção.
Lua corria pelo quintal pendurando nas plantas e fazendo graça para mim como se estivesse feliz da minha atenção para a natureza.
Minha avó chegou e fui disfarçar com ela perguntando como foi o culto.
Dormi a noite com o estômago um pouco embrulhado e no outro dia me encontrei com Barbara lá no bar para descermos todos juntos para o show.
Eu estava simples toda de preto com uma calça Jeans e coque no alto da cabeça.
Ao chegar lá encontrei Barbara que já parecia estar eufórica e alterada emocionalmente.
Barbara encheu meu copo de vinho e começamos a conversar depois chegaram três amigos dela todos de preto, um mais forte com uma espécie de jaqueta Jeans em cima da blusa preta de banda parecia carregar um garrafão de vinho.
Barbara falou assim:
- Nia esses são meus amigos e agora serão seus também.
Colocando as mãos no ombro do mais forte e de uma garota de cabelos castanhos encaracolados ela continuou:
- Esses são os irmãos Jonas e Jessica, Jonas curte Death e Black Metal e outras coisas pesadas. Jessica curte música clássica, Doom e Gothic metal além de ser vegana e wicca.
Os dois pareciam ter me cumprimentado com a cabeça enquanto tentava disfarçar meu olhar para os olhos de Jessica que tinha traços medievais parecia.
Indo pro outro lado ela colocou as mãos nos ombros de Michael e disse:
-Esse é Michael ele curte músicas eletrônicas e gosta de umas bandas também com uma pegada mais industrial.
Disse oi e antes dela terminar de falar já tinha percebido que Michael tinha um jeito parecido com o do Lafaiet. Ele tinha um cabelo preto todo passado com gel para trás, piercing abaixo da boca, calça justa e usava uma camiseta escrito “Marilyn Manson.”
Descemos todos juntos bebendo vinho e conversando todos bastante.
No meio do caminho um rapaz com uma calça camuflada e cabelo moicano se aproximou e agarrou a cintura de Jessica. Ela sorriu e os dois continuaram caminhando e se beijando.
Barbara me abraçou enchendo meu copo de vinho e disse que aquele era o Brian o punk louco da turma.
O interessante era que todo mundo gostava de um estilo ou coisa diferente, mas todo mundo se unia no preto e se respeitava.
Ao chegar ao local, fiquei um pouco assustada. Só tinha gente de preto, tocava uma música pesada com guitarra distorcida e uns vocais guturais que se minha vó escutasse com certeza diria que era música do demônio.
Barbara parecia conhecer todo mundo e já estava em outras rodas conversando.
Jonas se sentou de cara fechada na grama e continuou bebendo, Jessica e Brian sumiram naquele bando de camisas pretas.
Eu fiquei em pé com o copo de vinho olhando para Michael que sem graça e também bebendo começou a conversar comigo.
Michael me perguntou o que eu curtia de Metal e eu respondi que de tudo, mas na verdade tudo aquilo era novo pra mim, mas me fascinava.
Eles pareciam anjos rebeldes de vestes negras que não escutavam só samba ou pagode da maioria, mas o que realmente eles tinham vontade e de forma elegante.
Do outro lado parecia que tinha alguns rapazes mexendo com o Michael parecia que chamavam ele de emo e zombavam de viado ou alguns apelidos que eu não conhecia.
Passado alguns minutos Barbara voltou me abraçando de costa com uma bebida branca na mão e disse:
-Vamos entrar o show vai começar.
Ao entrar lá dentro fiquei um pouco assustada, mas disfarcei as bandas tocavam um som pesado e gritado enquanto se fazia uma roda no meio de todo mundo.
Jonas e Brian estavam dentro dessa roda e eles e os outros se esmurravam ao ritmo da música.
Jessica chegou do meu lado sorridente olhando Brian e me falava que se tivesse a roda das mulheres ela iria entrar.
Pensei na minha cabeça que louca.
Enquanto as bandas davam uma pausa a Barbara percebeu que eu estava passando mal, ela me levou para um canto gramado lá onde vomitei bastante e depois voltamos.
O show terminou às nove da noite e Barbara me deixou em casa.
Entrei em casa correndo e fui direto para o banheiro pegando a toalha que estava no arame.
Eu sabia que estava com muito cheiro de cachaça e não queria que minha avó percebesse, mas de fora do banheiro ela já me perguntava se estava tudo bem e eu respondi que sim.
Depois de tomar banho entrei no meu quarto e adormeci.
No domingo acordei bem animada e fui ao banheiro e um sinal de alegria me deixou muito feliz.
Minhas regras voltaram ao normal mandei uma mensagem para José Romário agradecendo.
Eu estava tão feliz e jurava para mim mesma que nunca mais deixaria essa possível tragédia acontecer.
A quarta feira estava prestes a chegar e minha busca por respostas cada vez mais perto e isso me deixava muito ansiosa.
Durante o início da semana fiz algumas das indicações que o blog esotérico me indicava como caminhar olhando com atenção um lugar com muitas plantas.
Mais tarde Barbara e Jessica me ligaram perguntando se eu já tinha melhorado da bebedeira do sábado.
Fiquei sentada lá no quintal na tarde de terça feira um pouco ansiosa depois de conversar o almoço inteiro na mesa com minha avó e decidi fazer uma das coisas que estava no blog místico.
Nessa época eu estava muito envolvida com essas coisas e o sonho com Sabrina e a proximidade da visita no centro espirita me deixava ainda mais envolvida.
Peguei um pouco da comida e coloquei com todo amor em um prato como se fosse um familiar meu e coloquei no quintal.
Fui ler meu blog favorito do momento e ao voltar ao quintal não existia nenhum grão de arroz no prato eu olhei para a Lua meio encabulada que dormia de barriga para cima no tapete, já que ela come tão pouco e sempre deixa o arroz.
Peguei o prato e lavei em silêncio como se nada tivesse acontecido.
Finalmente a quarta feira chegou e me arrumei para a ida ao centro que era as sete da noite, me vesti com uma blusa vermelha e uma calça jeans desbotada.
Senti vontade de colocar meu brinco de penas e coloquei e amarrei bem meu velho tênis all star que há tempos não usava.
Indo de ônibus sem falar com ninguém fiquei bem curiosa e nervosa tentando imaginar como seria aquele ambiente.
Ao chegar lá fui muito bem recebida por uma moça que me perguntou se era a primeira vez que eu ia lá e respondi que sim.
Ao entrar lá para minha surpresa muitas pessoas vestidas de branco e descalças. Os membros mesmo que pareciam atender estavam em pé se reunindo e outros pareciam estar se organizando.
Onde eu estava tinha mais pessoas de roupas coloridas como eu, mas poucas.
Estava sentada do lado dessas outras pessoas.
Alguns tocavam uma música que pareciam africanas e outro moço lá tocava tipo um tambor todo entusiasmado.
Estava sentada e algumas pessoas de branco passavam servindo frutas picadinhas de várias espécies além de café e pão de queijo.
Comi um pão de queijo e um pedaço de mamão picado, um cheiro doce e forte de incenso subia de repente todo mundo ficou em pé e eu sem graça fiquei também.
Depois todos começaram a bater palmas e eu sem graça e um pouco assustada comecei a bater palmas também acompanhando uma música ainda desconhecida para mim os membros todos de branco faziam um circulo entre eles e dançavam enquanto agente de fora batia palmas, eu jurava secretamente para mim mesma que não estava bem, pois no sábado estava em um lugar com todas as pessoas vestidas de preto e vocal diabólico e hoje estava ali num centro onde os membros só se vestem de branco.
De repente vi Jessica no meio das pessoas de branco ela dançava como se estivesse em transe ou possuída com um ramo de alguma planta na mão eu até tentei acenar, mas parece que ali ela não estava me reconhecendo.
Depois se fez uma roda e começou a separar as pessoas para o atendimento.
Não era igual eu pensava que era uma sala individualizada, os membros faziam um circulo e outras duas mulheres iam encaminhando os que estavam sentados para um dos de branco que faziam parte da roda.
Na minha vez uma moça me mostrou a moça de branco que eu ia, mas antes me falou que eu tinha que tirar todos os meus pertences e ficar descalça.
Aquilo foi muito estranho para mim, mas tirei tudo até meu brinco de penas.
E fiquei de frente a entidade.
Muito nervosa eu disse:
- Oi, eu vim aqui em busca do meu pai. Preciso que você me ajude a encontra-lo é meu sonho e a única coisa que sei dele é que ele era espírita.
A entidade ou sei lá como deveria chama-la não parecia estar muito bem. Parecia estar sobre efeito de algum alucinógeno e com uma planta estranha na mão, de vez em quando fumava.
Depois de algum tempo, ela me disse meio embaralhado e gaguejando:
-As coisas são assim mesmo, faça o bem e aceite seu caminho se ele realmente tiver de te procurar uma hora vai acontecer.
Uma moça me puxou e começou a me devolver as minhas coisas.
No caminho de volta para casa vim pensando em tudo e meio frustrada pensei que não adiantou nada.
Existia dentro de mim uma vontade de forças mágicas que fizessem que o meu pai se lembrasse de que tinha uma filha e que por direito merecia uma atenção de sangue ou história, mas parecia que realmente isso não fazia mais falta a ele.
Cheguei em casa bem triste e fui fazer umas pesquisas no computador e li mais um pouco do meu blog.
Abri a janela pois antes de dormir estava encalorada, quando estava dormindo comecei a acordar com um barulho na minha janela, imaginei que seria a Lua pulando mas não era quase um vulto de uma mão branca que ciscava a janela como se procurasse algo.
Eu podia jurar para mim mesmo que estava acordada e vi aquela coisa procurando algo na janela, fiquei uns dois minutos quieta com medo no escuro antes de levantar e acender a luz.
Ao acender vi que não tinha nada e Lua nem estava no quarto.
Que coisa diabólica que nunca vivi pensei comigo mesma e achei melhor para meu bem estar nunca mais voltar lá pois nunca tinha tido uma experiência assim.
E também se minha avó soubesse que estava indo a um centro espiritual bem capaz de ela me deserdar de vez mesmo e também não me senti muito tranquila mesmo, mas, de uma coisa eu tinha certeza quando eu tivesse oportunidade iria perguntar a Jessica sobre muitas coisas os pés descalços e porque temos que tirar tudo naquele lugar.



Capítulo. 12, VERTENTES DO METAL.

Durante meus 16 e 17 anos a minha relação com o pessoal que anda de preto e escuta essas músicas diferentes só foi ficando mais forte.
Eu e Barbara arrumávamos bicos juntas como fazer faxinas em apartamentos ou distribuir panfletos pra empresas na rua.
A escola já havia começado, mas devido à entrega que estava aos meus gatos comerciais acabei desistindo mais uma vez do ano letivo.
As pessoas começaram a falar para minha avó das minhas companhias e ela quase sempre falava:
-Maria Eugênia eu já falei pra você que não te quero ver andando com esses capetas que andam de preto, estou orando pra Jesus te libertar.
Pedi a Barbara para me emprestar alguns discos que ela escutava e um dia enquanto trabalhávamos ela trouxe três cds um do Iron Maiden outro do Judas Priest e um gravado que estava escrito com caneta permanente Black Sabbath.
Comecei a escutar, no início achei estranho, mas depois comecei a gostar de umas duas faixas do Iron Maiden e quando via já estava gostando do álbum inteiro.
O primeiro salário que eu ganhei minha avó ficou feliz porque dei um pouco para ela ajudando nas despesas de casa e ela já estava acostumando com a Barbara e Michael lá em casa.
Michael tinha se aproximado bastante de mim, quando ele estava triste ia lá em casa. Ele ia diferente, com uma franja bem cortada para um dos lados da testa e com lápis muito preto nos olhos.
Minha avó o chamava direto para a igreja e dizia que ele andava rebolando demais.
Michael ainda morava com os pais e tinha dezenove anos, era maquiador e cabelereiro e trabalhava com seu tio que tinha um salão de beleza.
No início eu o achava muito estranho, mas com o tempo fui me aproximando e me acostumei.
Michael arrumava o cabelo de Jessica de vez em quando.
Um dia ele me chamou para ir a casa dele chegando lá vi uma casa muito bem organizada com sofás bem elegantes que ele aproveitou para chamar as amigas para lá já que seus pais resolveram viajar e passar o final de semana em um parente distante.
Chegando lá para minha surpresa a Jessica estava lá.
A Jessica gostava muito do Michael e ia pra lá escondido quando tinha alguma brecha já que seus pais colocavam sempre Jonas na cola dela para vigiar, mas fui percebendo que isso não adiantava muito.
Michael colocou um som de uma banda que parecia se misturar com mixagens de boate. Enquanto ele preparava algo na cozinha eu comecei a falar com Jessica que me fez jurar não contar a ninguém que a vi ali.
Falei a Jessica que a vi no centro e ela disse que também me viu e comecei a fazer uma série de perguntas a ela como porque temos que ficar descalços lá e ela me disse:
- Nia olha só, o solo representa a morada dos nossos antepassados e quando ficamos com os pés no chão entramos em contato com nossa ancestralidade e segredos do passado. Além do respeito que temos que ter com todos que fazem presentes.
Fiquei vermelha de ver como Jessica era madura para os 17 dela, Michael chegou com as taças e disse que era o brinde das amigas.
Acabamos com uma garrafa de espumante e Jessica pediu para Michael colocar o mp3 dela e trazer outra garrafa e enquanto ele foi buscar a Jessica surpreendentemente me deu um beijo demorado nos meus lábios.
Ela me contou da relação dela com Brian e me falou que amava muito ele, mas que ele não levava nada a sério.
As músicas de Jessica deram outra cara ao ambiente que parecia se tornar até mais intelectual. As guitarras distorcidas se misturavam com guturais, teclados e sinos de igreja com vocais angelicais e de opera envolvida.
Michael era muito emotivo quando ele estava alegre adorava músicas eletrônicas e mixadas, mas quando estava com raiva escutava muito coisas como Marilyn Manson, Nirvana, e Silverchair ele me explicou e me fez conhecer o que é Grunge e outras coisas.
Jessica se despediu da gente olhando para o relógio e correndo.
Michael tirou as músicas dela e voltamos a escutar mais de Grunge um subgênero de rock alternativo que teve influências de hardcore punk, heavy metal e indie rock.
Depois voltei para casa pensando em muitas coisas e dentre elas os pés descalços no chão, segundo o que Jessica me disse isso poderia significar que com os pés no chão eu poderia tentar contatar e chamar o meu pai para perto de mim.
Cheguei em casa curiosa e fiquei pensando no que Barbara me falou que Brian escutava punk e fui escutar na internet pra ver oque era.
Pesquisando achei interessante e comecei a entender aquela rebeldia independente do Brian do seja livre e faça você mesmo, achei as ideias muito legais, mas não gostei das músicas rápidas e ousadas.
Mais tarde estava numa quase ressaca no sofá quando vi uma reportagem no noticiário do jornal que fizeram meus olhos se abrir atentos rapidamente, falavam de um rapaz diagnosticado com esquizofrenia que fugiu de um hospital psiquiátrico.
No programa jornalístico a mãe mostrava a foto do filho chorando e falando que já tinha três dias que ele não aparecia para tomar os remédios.
Eu e as meninas estávamos marcando de beber um dia no Green Park afinal fazia tempo que não ia lá.
Nos dias que eu Barbara trabalhávamos juntas percebi que ela engordou um pouco e depois de um dia exaustivo de trabalho na sexta feira resolvemos tomar uma cerveja naquele mesmo bar de sempre.
Barbara não estava muito animada e depois de umas três cervejas ela resolveu me contar que estava grávida.
Eu fiquei desconcertada e falei a ela porque ela não toma a erva e perguntei quem era o pai.
Mas ela já me cortou e disse sorrindo que ela queria o bebê e que o pai não era o José Romário.
Então segurei na mão dela e disse que ficava feliz por ela e que era bom ela beber menos por causa da criança.
Olhando para mim e fumando um cigarro, Barbara sorriu e virou uma dose de Vodca que estava sobre a mesa.
Fui para casa muito pensativa, mas a Barbara já era adulta e sabia o que estava fazendo e isso me consolava um pouco.
Segundo ela já era de três meses.
O irmão da Jessica o Jonas tinha uma banda que chamava Jtrash de vez em quando ele e os membros da banda iam tocar no estúdio ou faziam um ensaio aberto aonde a Jessica ás vezes me chamava e eu levava o Michael.
Jonas tocava guitarra e cantava muito bem de vez em quando ele fazia um vocal gutural.
Era nítido perceber que ele ficava todo exibido com outras meninas vestidas de preto e com camisetas de banda que ficavam lá na frente o vendo tocar e às vezes até assobiando. Os outros caras da banda sempre levavam meninas bonitas para apreciar os ensaios.
Jessica trouxe umas cervejas para mim e Michael e voltou a sentar no colo de Brian que estava num sofá fumando um cigarro.
No dia desse ensaio, quando Jonas começou a tocar e cantar eu olhei para Michael e vi que os olhos dele brilhava de uma forma diferente, mas não quis falar nada.
O som da Jtrash era muito legal, era pesado, mas bem executado.
Depois que acabou o ensaio umas das meninas rodearam o baterista outra pendurou no baixista e uma lá começou a conversar com o Jonas.
Na volta para casa vim a caminho conversando com Michael e ele me contava do preconceito que ele enfrentava que era amigo de Jonas, mas que eles evitavam ficar muito perto um do outro porque os amigos dele e da banda achavam ele muito emo e gay e isso queimava o filme dos garotos super héteros do metal.
O final de semana chegou e fomos para o Green Park, Michael passou lá em casa junto com Barbara e descemos juntos. Barbara estava levando uns cigarros de menta e uma garrafa de Campari e chegando lá já encontramos Jonas e Jessica com Brian sentado sobre a grama tomando vinho e catuaba.
Todo mundo conversava, tinha dois amigos do Jonas lá também que não demoraram muito e logo foram embora.
Barbara parecia estar a fim de beber todas. Mas fui moderando ela.
Aquele cigarro de menta dela parecia estar uma delicia e eu tentava fumar mesmo sem saber tragar e Barbara morria de rir da minha cara.
Tinha um lugar lá mais escondido no Green park tipo uma árvore que dava para um espaço mais camuflado aonde os rapazes mais velhos gostavam de ir para fumar um cigarro diferente.
E Jonas, Brian e Michael foram para lá para fumar esse bendito cigarro.
Eu e as meninas continuamos conversando.
Depois Brian voltou e falou que ia embora de ônibus e pediu Jessica para leva-lo até a esquina e ela foi.
Jessica sorria dos olhos extremamente vermelhos dele.
Eu e Barbara estávamos lá bebendo e percebendo que Michael estava demorando muito falei pra ela que ia lá chamar ele.
Quando passei aquele beco e aquela árvore cheia de sombra vi uma cena que me deixou muito assustada.
Michael estava agachado e Jonas encostado no muro com as calças abaixadas com a cara de que estava achando bom, isso mesmo ele estava fazendo sexo oral no Jonas.
Voltei sem graça para a grama onde Barbara estava e não sei se eles perceberam, pois depois de alguns minutos voltaram como se nada tivesse acontecido e depois cada um voltou para sua casa.

Capitulo. 13
UM CÂNCER SEM PALAVRAS

O tempo foi passando e estava uma época muito parada, os bicos meus e de Barbara tinham parado e ela estava quase casada, morando junto com um rapaz que eu nem conhecia e quase não saia mais.
Estava ajudando muito minha avó em casa quando um dia minha mãe chegou lá em casa de surpresa.
Minha avó conversou com ela um longo momento lá na sala de estar enquanto eu terminava de lavar as louças.
Sem me pedir para parar de lavar minha mãe me abraçou de uma forma que ela não fazia há muito tempo e disse que me amava.
Eu perguntei a ela o que tinha acontecido com o perfil Marista Star.
Ela sorriu meio sem graça e disse que estava elaborando novos projetos para a vida dela e resolveu dar um tempo das redes sociais.
Depois ela ajudou tia Mariana e minha avó terminar o almoço e conversamos mais um pouco durante o ato.
Sentada na cisterna lá fora minha mãe começou a falar de forma que não conseguia mais parar de falar.
E tia Mariana tentando entrar no ritmo, de repente ela tossiu forte de um jeito que nunca vi ela tossir.
Parecia um barulho de catarro preso na garganta ou pulmão e quando ela tirou a mão da boca.
Eu falei:
-Mãe seu nariz está com sangue.
Ela levantou sem graça e foi no banheiro lavar.
Enquanto ela estava no banheiro minha tia Mariana sentou ao meu lado e me contou que minha mãe foi diagnosticada com um tipo de câncer muito agressivo no pulmão.
Minha avó entrou no meio e falou que não quer que fale o nome dessa doença lá dentro de casa. Minha tia me contou que as pessoas de antigamente não gostavam nem de falar o nome de tão maligna que é.
Depois minha mãe voltou para a cisterna e continuamos a conversa de uma forma mais fria tentando esconder esse susto que até para mim foi.
Depois a noite no meu quarto abraçada com Lua pensei muitas coisas, como minha mãe guardar tanto um segredo que é meu pai dentro dela e isso se tornar um câncer, mas também pensei de forma realista que talvez seja só falta de sorte mesmo como o Lafaiet sempre fala é que nascemos, crescemos, reproduzimos e morremos.
Só uma coisa me machucava por dentro, eu tinha uma esperança muito forte de que minha mãe algum dia me dissesse quem era o meu pai.
E isso me doía bastante, pois a finitude me mostrava que ela poderia levar com ela a única resposta para mim que só ela tinha.
Os dias continuaram um pouco tristes depois desse diagnóstico, estava sim agora explicado porque a otimista exagerada tinha até tirado sua rede social de circulação.
Minha avó parecia estar mais religiosa e tia Mariana seguia o ritmo era campanha atrás de campanha e orações.
Um dia fiquei até assustada e acordei com o pastor orando comas duas lá na sala de casa.
Na internet lendo as postagens de Lafaiet vi um texto muito legal e interessante onde de forma realista ele dizia supostamente que essa fé exagerada das pessoas poderia estar ligada ao desespero por consolo da nossa realidade tão cruel. É verdade que nós nunca queremos aceitar a nossa finitude e sempre queremos fantasiar para ficar mais aceitável como o lindo céu acolhedor na promessa divina ou o contato mediúnico e familiar espírita.
Eu estava muito bagunçada e confusa com o misticismo e a realidade.
Era uma quinta feira e fui pro bar beber e conversar com José Romario, aquele homem mais uma vez me deixava muito acolhida e consolada eu não sei se isso se mistura a falta de uma figura paterna masculina ou se é a causa dos meus desabafos que ele escuta com atenção misturados a muito álcool, mas , sim fui pra cama com ele mais esse dia e muitas outras vezes usando camisinha é lógico.

CAP.14
TENTANDO SER UM HOMEM

Os dias foram passando, a Sabrina nunca respondeu acho que deve ter trocado até de número de celular.
A escola havia começado e eu tinha conseguido um trabalho temporário que o governo estava oferecendo para jovens ou adolescentes que queriam oportunidades, estava uma bagunça e não conseguia focar nas aulas e decidi parar e ficar só com o trabalho.
Aplicava sempre injeções na Lua no veterinário, pois não queria que ela procriasse naquele momento. Ele havia me recomendado uma castração, mas achei muito cruel com ela e continuei nesse hábito.
Parecia que minha vida estava fazendo sentido eu ajudava em casa comprava roupas do jeito que eu queria e sapatos cada vez mais masculinos.
Minha avó parecia perceber que eu estava conseguindo tomar as minhas próprias decisões sozinhas apesar de ter odiado a minha parada escolar.
Nas minhas redes sociais eu via postagens do Robert todo feliz com seu primeiro filho, eu nunca pensei que ele gostasse tanto assim de crianças toda hora divulgava uma foto diferente.
No mais minha rotina continuava e de tão distante acabei me afastando de Sabrina por completo, mas o aprendizado ficou.
E minha vida foi se seguindo, o emprego me fazia tão bem que chegava em casa exausta e acordava descansada para mais um dia de trabalho. Comecei a fazer amizades por lá a maioria eram garotos.
No final de semana agente se reunia para pescar. O projeto do governo acabou, mas o pessoal do serviço gostou tanto da nossa equipe que já encaminhou agente para trabalhar num deposito bem movimentado de materiais de construção.
Eu ficava na parte de almoxarifado e de vez em quando ajudava meus amigos no abastecimento de materiais.
Minha vó estava feliz as coisas em casa e a dispensa estava prosperando só uma coisa não me deixava feliz o meu cabelo, eu queria cortar igual os meninos do trabalho e avisei minha avó e ela disse que a escolha era minha e que ela só demoraria em acostumar um pouco.
E cortei, foi um alivio a emoção de ver o pezinho raspado do cabelo dos garotos na minha cabeça foi muito legal.
Na empresa os caras zoavam passando a mão na minha careca até acostumar e assim meus dias foram passando até os 18 anos.
Daí para frente continuei nessa mesma rotina, com alguns poucos acontecimentos a Lua teve três filhotes negros lindos que batizei de Thor, Zeus e Leca.
O pessoal da firma se reencontrava em pescarias ou casas de choperias aonde conhecia algumas garotas com quem me encontrava algumas vezes, mas nada nunca sério ou durável.
O pessoal do metal todos seguiram seus rumos e Barbara estava fazendo faculdade de direito e Lafaiet abriu um salão de beleza próprio.
Minha mãe Maristela nesses últimos anos descobriu um câncer agressivo e veio a falecer levando consigo qualquer possibilidade de respostas e eu estou aqui apesar da dor e de não ter vontade de comparecer a esses eventos tristes com uma vida inteira pela frente para sobreviver.
Ela chegou a pedir pra me ver, mas falei para minha vó que para o meu bem não gostaria de ir e nem de ver ela no caixão e com o tempo essa dor foi cicatrizando e minha vó evita por tudo tocar em assunto.
Feliz, com o homem para mim mesmo no qual me tornei e acreditando que eu e você podemos ser mais do que os rótulos que a sociedade nos impõem.
Eu Maria Eugênia a Nia desse livro aprendi que a próxima página ou capítulo só depende da gente e que por mais triste ou sem reposta que possa parecer o caminhar desses pés só cabe a você.
Obrigado por me acompanharem nesse meu simples relato.